+ "O que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados" (Mt 10, 27) +
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Podcast CEFAScast no seu celular
Estamos upando todos os episódios do Podcast CEFAScast para o Telegram.
Nosso podcast, produzido entre 2010 e 2012 tem áudios em mp3 com narrativas de história de Santos, milagres, orações, debates, reflexões, estudos, palestras, músicas, etc.
O aplicativo Telegram é parecido com o Whatsapp mas com a vantagem da tecnologia dos canais, que é tipo um site dentro do sistema e a vantagem de manter os arquivos na nuvem.
Para acessar é fácil, primeiro instale o telegram no seu celular pela loja de aplicativos do seu celular (é grátis). E depois clique neste link abaixo:
Acesse e divulgue!
Divulgando este podcast você estará evangelizando pois estará levando conteúdo da Igreja para o acesso de muitas pessoas!
Deus te abençoe!
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Canal do CEFAScast disponibiliza os mp3 para download!
Irmãos, estamos colocando todos os episódios do Podcast CEFAScast disponível para download novamente. Criamos um Canal no Telegram do Podcast CEFAScast.
Telegram é um aplicativo de mensagens com muito mais vantagens que o Whatsapp. Para saber maiores informações sobre ele clique aqui.
Após instalado e configurado o Telegram você pode acessar nosso canal e todos os áudios para download neste link:
Se você desejar, temos um canal também com mensagens diárias da liturgia do dia, santos, formações, orações e etc. Pode ser acessado neste link:
terça-feira, 6 de outubro de 2015
Santa Teresa D'avila e o Caminho de Perfeição
A vida de Santa Teresa de Jesus, doutora da Igreja, foi contemplada no programa Ao Vivo intitulado "Caminho de Perfeição". Nesse episódio, Padre Paulo Ricardo falou sobre o contexto em que a Santa Madre nasceu, o despertar da sua vocação, a luta pelo desapego do mundo e de como surgiram seus escritos, em especial, o livro de mesmo nome. Assim, para enriquecer o curso que se inicia recordamos o programa em questão que servirá como introdução e aplainará os nossos passos nessa estrada rumo ao Céu.
Deus te abençoe!
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Canal de Evangelização e Formação Católica no celular!

É o canal Missão CEFAS que está na plataforma Telegram que você pode instalar em seu celular muito facilmente pelo sua central de aplicativos.
Depois de instalar o Telegram é só nos buscar digitando @missaocefas .
Não estamos mais usando o Whatsapp por apresentar vários problemas de segurança e espaço no celular. O Telegram é um aplicativo que tem muito mais vantagens, se quiser saber mais, clique aqui.
O nosso canal aberto já está criado e está "bombando"!
Pra quem não sabe o que é um canal aberto:
> ninguém consegue mandar mensagem pra ninguém
> ninguém vê os nomes e números de ninguém, só a quantidade de pessoas
> você só recebe minhas mensagens lá dentro do grupo
> o administrador não precisa saber número de telefone de ninguém e não consegue descobrir
> não precisa do administrador adicionar pessoas. Elas mesmas entram e saem quando querem
> você não perde as mensagens! Você vê as antigas porque elas ficam no servidor do telegram
> não vai encher a memória do seu celular
> qualquer um no mundo inteiro pode entrar no grupo e acompanhar as mensagens de espiritualidade e formação
É só instalar o telegram e depois de instalado, entrar neste link onde está nosso canal:
https://telegram.me/missaocefas
Venha fazer parte!
E evangelize divulgando!
Deus te abençoe!
sábado, 8 de agosto de 2015
Livro "Quaresma Meditativa a São Miguel Arcanjo"
Irmãos, é com grande alegria que compartilho este trabalho edificante!
Busquei os melhores textos sobre a realidade espiritual dos Anjos. Neste livro você poderá fazer a Quaresma de São Miguel com textos diários para aprofundamento da sua fé. Você pode lê-lo também fora da quaresma acompanhando as 40 meditações quando quiser, na velocidade que preferir.
Nosso objetivo aqui é fazer uma Quaresma Meditativa. O que é isso? É um período forte de oração acompanhado por textos breves mas profundos para meditação e aprofundamento do tema para conhecimento e vivência. Aprendi a importância da leitura e meditação com os Beneditinos. Há muitas leituras que nos edificam enormemente e nos conduzem mais perto das coisas espirituais e maior intimidade e confiança em Deus. Este é o objetivo desta Quaresma Meditativa.
Então para cada dia desta quaresma venho trazer aqui uma riquíssima coletânea de textos, que tenho certeza, vai nos tocar profundamente, aumentando nosso amor a Deus e aos Santos Anjos. Se possível, busque fazer algumas anotações do que mais te marcou no texto, dos seus propósitos diante de Deus ou qualquer outra coisa que lhe inspirar.
Fazendo esta quaresma meditativa você estará embarcando numa verdadeira aventura! Entrará num túnel do tempo da história do mundo, dos homens e dos anjos, e com uma visão espiritual para enxergar muito além do que tem visto até então.
Você lerá o que disse os Escritos Bíblicos Sagrados, os Santos Padres, os Místicos, os Papas, Santos e outras autoridades. Também ouvirá os próprios anjos, São Miguel e Nossa Senhora nas Revelações Particulares mais respeitadas.
Para adquirir o livro acesse o link da loja de livros on line, onde você pode adquirir a versão impressa ou em formato ebook (epub):
Deus te abençoe!
Alessandro Silva
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Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 9º
9º dia da NOVENA – Hino ao Espírito Santo, de
Edith Stein
Num clima místico, poucos meses antes da sua deportação para Auschwitz,
nasce uma das mais belas orações de Edith Stein, Santa Benedita da Cruz. Um
hino ao Espírito Santo. Foi o seu «último pentecostes».
I
Quem és tu, Doce luz que me preenche e ilumina a obscuridade do
meu coração?
Conduzes-me como a mão de uma mãe; E se me soltasses, não saberia
nem dar mais um passo.
És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si. Se Fosse
abandonado por ti,
cairia no abismo do nada, de onde tu o elevas ao Ser.
Tu, mais próximo de mim que eu mesmo, e mais íntimo que minha intimidade,
E, sem dúvida, permaneces inalcançável e incompreensível,
E que faz brotar todo nome: Espírito Santo — Amor eterno!
II
Não és Tu, O doce maná,
que do coração do Filho flui para o meu, alimento dos anjos e dos
bem aventurados?
Aquele que da morte à vida se elevou, Também a mim despertou a uma
nova vida
Do sono da morte. E nova vida me doa
Dia após dia. E um dia me cumulará de plenitude.
Vida de minha Vida. Sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, – Vida Eterna!
III
Tu és o raio, que cai do Trono do Juiz eterno
e irrompe na noite da alma, que nunca se conheceu a si mesma?
Misericordioso e impassível, penetras nas profundezas escondidas.
Se ela se assusta ao ver-se a si mesma, Concedes lugar ao santo
temor,
princípio de toda sabedoria, que vem do alto,
e no alto com firmeza nos unes à tua obra, que nos faz novos,
Espírito Santo — Raio penetrante!
IV
Tu és a plenitude do Espírito, e da força
com a qual o Cordeiro rompe o selo, do segredo eterno de Deus?
Impulsionados por ti, os mensageiros do Juiz
cavalgam pelo mundo, e com espada afiada separam
o reino da luz do reino da noite. Então surgirá um novo céu
E uma nova terra, e tudo retorna ao seu justo lugar
graças a teu alento: Espírito Santo — Força triunfante!
V
Tu és o mestre construtor da catedral eterna, que se eleva da
terra aos céus?
Por ti vivificadas as colunas se elevam, Para o alto e permanecem
imóveis e firmes.
Marcadas com o nome eterno de Deus, se elevam para a luz
sustentando a cúpula, que cobre, qual coroa,
a santa catedral, tua obra transformadora do mundo,
Espírito Santo — Mão criadora!
VI
Tu és quem criou o claro espelho, Próximo ao trono do Altíssimo,
como um mar de cristal, aonde a divindade se contempla amando?
Tu te inclinas, sobre a obra mais bela da criação,
e resplandecente te ilumina, com teu mesmo esplendor.
E a pura beleza de todos os seres, Unida à amorosa figura da
Virgem,
tua esposa sem mancha: Espírito Santo — Criador do Universo!
VII
Tu és o doce canto do amor, e do santo recato,
que eternamente ressoa, diante do trono da Trindade,
e desposa consigo os sons puros de todos os seres?
A harmonia, que une os membros com a Cabeça,
onde cada um encontra feliz, o sentido secreto de seu ser,
e jubilante irradia, livremente desprendido em teu fluir:
Espírito Santo — Júbilo eterno!
Fonte:
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 8º
8º dia da NOVENA – «Edith Stein, mestra de espiritualidade»
- Entrevista com o carmelita Jesus Castellano
ROMA, sexta-feira, 26 de março de 2004 (ZENIT.org).- Edith Stein
(1891-1942), judia, filósofa, mártir, carmelita santa e co-patrona da Europa,
considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o padre
carmelita Jesús Castellano, ocd, que nesta sexta-feira pela tarde ministra uma
conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano
(Itália).
«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu
ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha
este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum
de Roma. O padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da
Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia,
liturgia e espiritualidade.
--Podemos
considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano
II?
Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do
movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar
eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos
centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a abadia de Beuron, onde o
abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.
Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa,
como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo.
Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o
celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto
clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.
--Por que
não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na
vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?
Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como
fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de
João da Cruz. Seus escritos são numerosos.
Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que
contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de
contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia
judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e
quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo,
sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são
muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua
profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de
espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.
--Edith,
antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a
oração litúrgica com a oração pessoal?
--Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem
o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência.
Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a
participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres
de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da
espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como
para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só.
E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia
da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até
afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa
sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua
atividade e seus escritos.
--É exagero
ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?
--Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o
toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque
de delicadeza e de profundidade.
A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a
entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude
mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de
fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus
escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith,
sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.
--O que é a
espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?
--Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante
a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a
oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o
agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu
filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como
oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith
Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e
iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes
até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.
--O que
ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?
--Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se
refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do
futuro.
Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão
aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação
litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja.
No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também
nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua
experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de
entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia
eclesial e pelo decoro das celebrações. Edith Stein contribuiu em tudo isto com
a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos
mistérios.
(26 de Março de 2004) © Innovative Media Inc.
Fonte:
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 7º
7º dia da NOVENA – CARTA DO PAPA SÃO JOÃO
PAULO II PROCLAMANDO SANTA EDITH STEIN COMO CO-PADROEIRA DA EUROPA
CARTA
APOSTÓLICA
EM FORMA DE "MOTU PROPRIO"
PARA A PROCLAMAÇÃO
DE SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA,
SANTA CATARINA DE SENA
E SANTA BENEDITA DA CRUZ
CO-PADROEIRAS DA EUROPA
EM FORMA DE "MOTU PROPRIO"
PARA A PROCLAMAÇÃO
DE SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA,
SANTA CATARINA DE SENA
E SANTA BENEDITA DA CRUZ
CO-PADROEIRAS DA EUROPA
JOÃO
PAULO PP. II
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA
(...)
8. Com Edith Stein Santa Teresa
Benedita da Cruz encontramo-nos num diferente ambiente histórico-cultural. De
facto, ela conduz-nos ao centro deste século atormentado, apontando as
esperanças por ele acesas, mas também as contradições e as falências que o
caracterizaram. Edith não provém, como Brígida e Catarina, de uma família
cristã. Nela tudo indica o tormento da procura e a fadiga da
"peregrinação" existencial. Mesmo depois de ter alcançado a verdade
na paz da vida contemplativa, ela teve de viver o mistério da Cruz até ao
fundo.
Nasceu em 1891 de uma família
hebraica de Breslau, que nessa época era território alemão. O gosto que ela
desenvolveu pela filosofia, abandonando a prática religiosa inspirada pela sua
mãe, ter-lhe-ia sugerido, mais que um caminho de santidade, uma vida conduzida
pela nota do puro "racionalismo". A graça, porém, aguardava-a nos
meandros do pensamento filosófico: tendo percorrido o caminho da corrente
fenomenológica, ela soube recolher a instância de uma realidade objetiva que,
ao invés de reconduzir ao sujeito, precedia e determinava o conhecimento,
devendo ser examinada com um rigoroso esforço de objetividade. É necessário
escutá-la, fixando-a sobretudo no ser humano, devido àquela capacidade de
"empatia" expressão que lhe era muito querida que permite, de certo
modo, incorporar o que é vivido pelos demais (cf. E. Stein, O problema da empatia).
Foi nesta tensão de escuta que
ela se encontrou, por um lado com os testemunhos da experiência espiritual
cristã oferecida por Santa Teresa de Ávila e de outros grandes místicos, dos
quais se tornou discípula e propagadora, e por outro lado com a antiga tradição
do pensamento cristão, consolidada no tomismo. Por este caminho ela chegou
primeiro ao baptismo e, depois, à escolha da vida contemplativa na Ordem carmelitana.
Tudo se desenrolou no contexto de um itinerário existencial bastante
movimentado, marcado não só pela busca da vida interior, mas pelo empenhamento
no estudo e no ensino, que ela realizou com dedicação admirável. Foi de grande
apreço, sobretudo no seu tempo, a sua obra a favor da promoção social da
mulher, e são realmente penetrantes as páginas com as quais ela explorou a
riqueza da feminilidade e a missão da mulher do ponto de vista humano e
religioso (cf. E. Stein, A
mulher. A sua tarefa, segundo a natureza e a graça).
9. O encontro com o cristianismo
não foi motivo para ela repudiar as suas raízes hebraicas; pelo contrário,
ajudou-a a redescobri-las em plenitude. Isto, porém, não lhe poupou a
incompreensão por parte dos seus familiares. Sobretudo a desaprovação da
própria mãe lhe causou uma dor intensa. Na verdade, todo o seu caminho de
perfeição cristã se distinguiu não só pela solidariedade humana para com o seu
povo de origem, mas também por uma verdadeira partilha espiritual com a vocação
dos filhos de Abraão, designados pelo mistério da chamada e dos "dons
irrevogáveis" de Deus (cf. Rm 11, 29).
De modo particular, ela fez
próprio o sofrimento do povo judeu, na medida que este aumentava naquela feroz
perseguição nazista que permanece, juntamente com outras graves expressões do
totalitarismo, uma das mais obscuras e vergonhosas manchas da Europa do nosso
século. Sentiu então que, no extermínio sistemático dos judeus, a cruz de
Cristo era carregada pelo seu povo, e assumiu-a na sua pessoa com a sua
deportação e a execução no tristemente célebre campo de Auschwitz-Birkenau. O
seu grito funde-se com o de todas as vítimas daquela horrível tragédia, unido
porém ao brado de Jesus, que assegura ao sofrimento humano uma misteriosa e
perene fecundidade. A sua imagem de santidade permanece para sempre ligada ao
drama da sua morte violenta, ao lado de tantos que a padeceram juntamente com
ela. E permanece como um anúncio do evangelho da Cruz, com o qual ela se quis
identificar no seu mesmo nome de religiosa.
Hoje, vemos Teresa Benedita da
Cruz reconhecer no seu testemunho de vítima inocente, por um lado a imitação do
Cordeiro imaculado e a protesta levantada contra todas as violações dos
direitos fundamentais da pessoa e, por outro, o penhor daquele renovado
encontro de judeus e cristãos, que na linha auspiciada pelo Concílio Vaticano
II, está a conhecer uma prometedora fase de abertura recíproca. Declarar hoje
Edith Stein co-Padroeira da Europa significa colocar no horizonte do velho
Continente um estandarte de respeito, de tolerância e de hospitalidade que
convida os homens e as mulheres a entenderem-se e a aceitarem-se, para além das
diferenças étnicas, culturais e religiosas, formando assim uma sociedade
verdadeiramente fraterna.
(...)
Dado em Roma, junto de São
Pedro, a 1 de Outubro de 1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.
IOANNES PAULUS PP. II
Fonte:
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 6º
6º dia da NOVENA – HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO
II NA CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO DE EDITH STEIN
11 de Outubro de 1998
“1. Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo (cf. Gl 6, 14).
As palavras de São Paulo aos Gálatas, que acabámos de escutar,
adaptam-se bem à experiência humana e espiritual de Teresa Benedita da Cruz,
que hoje é solenemente inscrita no álbum dos santos. Também ela pode repetir
com o Apóstolo: Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo.
A cruz de Cristo! No seu constante florescimento, a árvore da Cruz
dá sempre renovados frutos de salvação. Por isso, os fiéis olham com confiança
para a Cruz, haurindo do seu mistério de amor a coragem e o vigor para caminhar
com fidelidade nas pegadas de Cristo crucificado e ressuscitado. Assim, a
mensagem da Cruz entrou no coração de muitos homens e mulheres, transformando a
sua existência. Um exemplo eloquente desta extraordinária renovação interior é
a vicissitude espiritual de Edith Stein. Uma jovem em busca da verdade, graças
ao trabalho silencioso da graça divina, tornou-se santa e mártir: é Teresa
Benedita da Cruz, que hoje repete do céu a todos nós as palavras que
caracterizaram a sua existência: «Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser
na cruz de Jesus Cristo».
2. No dia 1 de Maio de 1987, durante a minha visita pastoral na
Alemanha, tive a alegria de proclamar Beata, na cidade de Colónia, esta
generosa testemunha da fé. Hoje, a onze anos de distância aqui em Roma, na
Praça de São Pedro, é-me dado apresentar solenemente esta eminente filha de
Israel e filha fiel da Igreja como Santa perante o mundo inteiro. Assim como
nessa data, também hoje nos inclinamos diante da memória de Edith Stein,
proclamando o testemunho invicto que ela deu durante a vida e sobretudo com a
morte. Ao lado de Teresa de Ávila e de Teresa de Lisieux, esta outra Teresa vai
colocar-se no meio da plêiade de santos e santas que honram a Ordem
carmelitana.
Caríssimos Irmãos e Irmãs, que vos congregastes para esta solene
celebração, dêmos glória a Deus pela obra que realizou em Edith Stein.
3. Saúdo os numerosos peregrinos vindos a Roma, com um particular
pensamento para os membros da família Stein, que quiseram estar conosco nesta
feliz circunstância. Uma cordial saudação dirige-se também à representação da
Comunidade carmelitana, que se tornou a «segunda família» para Teresa Benedita
de Cruz. Depois, dou as minhas boas-vindas à delegação oficial da República
Federal da Alemanha, chefiada pelo Chanceler Federal resignatário, Helmut Kohl,
a quem saúdo com deferente cordialidade. Além disso, cumprimento os
representantes das regiões de Nordrhein-Westfalen e Rheinland-Pfalz, bem como o
Primeiro Presidente da Câmara Municipal de Colónia. Inclusivamente da minha
Pátria veio uma delegação oficial, guiada pelo Primeiro-Ministro Jerzy Buzek. Dirijo-lhe
uma cordial saudação. Depois, quero reservar uma especial menção aos peregrinos
das dioceses de Vratislávia, Colónia, Monastério, Espira, Cracóvia e
Bielsko-Žywiec, presentes com os seus Bispos e sacerdotes. Eles unem-se ao
numeroso grupo de fiéis vindos da Alemanha, dos Estados Unidos da América e da
minha Pátria, a Polónia.
4. Diletos Irmãos e Irmãs! Porque era judia, Edith Stein foi
deportada juntamente com a irmã Rosa e muitos outros judeus dos Países Baixos
para o campo de concentração de Auschwitz, onde com eles encontrou a morte nas
câmaras de gás. Hoje recordamo-nos de todos com profundo respeito. Poucos dias
antes da sua deportação, a quem lhe oferecia uma possibilidade de salvar a
vida, a religiosa respondera: «Não o façais! Por que deveria eu ser excluída? A
justiça não consiste acaso no facto de eu não obter vantagem do meu baptismo?
Se não posso compartilhar a sorte dos meus irmãos e irmãs, num certo sentido a
minha vida é destruída».
Doravante, ao celebrarmos a memória da nova Santa, não poderemos
deixar de recordar todos os anos também o Shoah, aquele atroz plano de
eliminação de um povo, que custou a vida a milhões de irmãos e irmãs judeus. O
Senhor faça brilhar o seu rosto sobre eles, concedendo-lhes a paz (cf. Nm 6,
25s.).
Por amor de Deus e do homem, lanço de novo um premente brado:
nunca mais se repita uma semelhante iniciativa criminosa para nenhum grupo
étnico, povo e raça, em qualquer recanto da terra! É um brado que dirijo a
todos os homens e mulheres de boa vontade; a todos aqueles que creem no Deus
eterno e justo; a todos aqueles que se sentem unidos em Cristo, Verbo de Deus
encarnado. Aqui, todos nós devemos ser solidários: é a dignidade humana que
está em jogo. Só existe uma única família humana. É isto que a nova Santa
afirmou com grande insistência: «O nosso amor pelo próximo - escrevia - é a
medida do nosso amor a Deus. Para os cristãos - e não só para eles - ninguém é
"estrangeiro". O amor de Cristo não conhece fronteiras».
5. Estimados Irmãos e Irmãs! O amor de Cristo foi o fogo que ardeu
a vida de Teresa Benedita da Cruz. Antes ainda de se dar conta, ela foi
completamente arrebatada por ele. No início, o seu ideal foi a liberdade.
Durante muito tempo, Edith Stein viveu a experiência da busca. A sua mente não
se cansou de investigar e o seu coração de esperar. Percorreu o árduo caminho
da filosofia com ardor apaixonado e no fim foi premiada: conquistou a verdade;
antes, foi por ela conquistada. De facto, descobriu que a verdade tinha um
nome: Jesus Cristo, e a partir daquele momento o Verbo encarnado foi tudo para
ela. Olhando como Carmelita para este período da sua vida, escreveu a uma
Beneditina: «Quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a
Deus».
Embora sua mãe a tenha educado na religião hebraica, aos 14 anos
de idade Edith Stein, «consciente e propositadamente desacostumou-se da
oração». Só queria contar consigo mesma, preocupada em afirmar a própria
liberdade nas opções de vida. No fim do longo caminho, foi-lhe dado chegar a
uma surpreendente conclusão: só quem se une ao amor de Cristo se torna
verdadeiramente livre.
A experiência desta mulher, que enfrentou os desafios de um século
atormentado como o nosso, é para nós exemplar: o mundo moderno ostenta a porta
atraente do permissivismo, ignorando a porta estreita do discernimento e da
renúncia. Dirijo-me especialmente a vós, jovens cristãos, em particular aos
numerosos ministrantes reunidos em Roma nestes dias: evitai conceber a vossa
vida como uma porta aberta a todas as opções! Escutai a voz do vosso coração!
Não permaneçais na superfície, mas ide até ao fundo das coisas! E quando chegar
o momento, tende a coragem de vos decidirdes! O Senhor espera que coloqueis a
vossa liberdade nas suas mãos misericordiosas.
6. Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender que o amor
de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a verdade têm
uma relação intrínseca. A busca da verdade e a sua tradução no amor não lhe
pareciam ser contrastantes entre si; pelo contrário, compreendeu que estas se
interpelam reciprocamente. No nosso tempo, a verdade é com frequência
interpretada como a opinião da maioria. Além disso, é difundida a convicção de
que se deve usar a verdade também contra o amor, ou vice-versa. Todavia, a
verdade e o amor têm necessidade uma do outro. A Irmã Teresa Benedita é
testemunha disto. «Mártir por amor», ela deu a vida pelos seus amigos e no amor
não se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a
verdade, da qual escrevia: «Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes
sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro». A Irmã Teresa Benedita da
Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor. E
não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade!
7. Enfim, a nova Santa ensina-nos que o amor a Cristo passa
através da dor. Quem ama verdadeiramente, não se detém diante da perspectiva do
sofrimento: aceita a comunhão na dor com a pessoa amada. Consciente do que
comportava a sua origem judaica, Edith Stein pronunciou palavras eloquentes a
este respeito: «Debaixo da cruz, compreendi a sorte do povo de Deus...
Efectivamente, hoje conheço muito melhor o que significa ser a esposa do Senhor
no sinal da Cruz. Mas dado que se trata de um mistério, isto jamais poderá ser
compreendido somente com a razão». Pouco a pouco, o mistério da Cruz impregnou
toda a sua vida, até a impelir rumo à oferta suprema. Como esposa na Cruz, a
Irmã Teresa Benedita não escreveu apenas páginas profundas sobre a «ciência da
cruz», mas percorreu até ao fim o caminho da escola da Cruz. Muitos dos nossos
contemporâneos quereriam fazer com que a Cruz se calasse. Mas nada é mais
eloquente que a Cruz que se quer silenciar! A verdadeira mensagem da dor é uma
lição de amor. O amor torna o sofrimento fecundo e este aprofunda aquele.
Através da experiência da Cruz, Edith Stein pôde abrir um caminho rumo a um
novo encontro com o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo. A fé e a cruz revelaram-se-lhe inseparáveis. Amadurecida na escola da
Cruz, ela descobriu as raízes às quais estava ligada a árvore da própria vida.
Compreendeu que lhe era muito importante «ser filha do povo eleito e pertencer
a Cristo não só espiritualmente, mas inclusive mediante um vínculo sanguíneo».
8. «Deus é espírito e
aqueles que O adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4, 24).
Caríssimos Irmãos e Irmãs, com estas palavras o divino Mestre entretém-se com a
Samaritana junto do poço de Jacob. Quanto Ele deu à sua ocasional mas atenta
interlocutora, encontramo-lo presente também na vida de Edith Stein, na sua
«subida ao Monte Carmelo ». A profundidade do mistério divino tornou-se-lhe
perceptível no silêncio da contemplação. Ao longo da sua existência, enquanto
amadurecia no conhecimento de Deus adorando-O em espírito e verdade, ela
experimentava cada vez mais claramente a sua específica vocação de subir à cruz
juntamente com Cristo, de abraçá-la com serenidade e confiança, de amá-la
seguindo as pegadas do seu dilecto Esposo: hoje, Santa Teresa Benedita da Cruz
é-nos indicada como modelo em que nos devemos inspirar e como protectora à qual
havemos de recorrer. Dêmos graças a Deus por este dom. A nova Santa seja para
nós um exemplo do nosso compromisso no serviço da liberdade e na nossa busca da
verdade. O seu testemunho sirva para tornar cada vez mais sólida a ponte da
recíproca compreensão entre judeus e cristãos. Santa Teresa Benedita da Cruz,
ora por nós! Amém.
Fonte:
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 5º
5º dia da NOVENA – 2ª parte da Homilia do Papa
São João Paulo II na cerimônia de beatificação da irmã Teresa Benedita da Cruz
6. Teresa, a
abençoada pela cruz, este é o nome daquela mulher que iniciou o seu caminho
espiritual com a convicção de que não existia absolutamente nenhum Deus. Nos
anos da sua juventude e dos seus estudos, a sua vida não tinha ainda sido
marcada pela cruz de Cristo; no entanto, esta constituía já o objeto da
constante procura e do estudo da sua viva inteligência. Quando tinha quinze
anos, na sua cidade natal, Breslávia, Edith, nascida numa família judia,
decidiu "deixar de rezar", como ela mesma confessou. Apesar de ter
sido profundamente impressionada pela forte fé da sua mãe, transcorreu os anos
da juventude e de estudos com espírito ateístico.
Considerava
inadmissível a existência de um Deus pessoal.
Nos anos dos seus
estudos de Psicologia, Filosofia, História e Filologia germânica em Breslávia,
Gotinga e Friburgo, Deus não ocupava nenhum lugar na sua vida. Todavia,
professava um "idealismo ético muito elevado". De acordo com o seu
grande talento, intelectual, não quis aceitar nada que não fosse provado, nem
sequer a fé dos seus pais. Desejava por si mesma ir ao fundamento das coisas.
Por isso busca
incansavelmente a verdade. Mais tarde, olhando para essa época de inquietude
espiritual, reconheceu esse tempo como uma etapa importante do seu processo de
maturação interior, afirmando: "A minha busca da verdade era uma
verdadeira e própria oração" – maravilhosa frase de consolo para todos os
que têm dificuldade em crer em Deus! A procura da verdade é já no mais íntimo
uma busca de Deus.
Sob a forte
influência do seu mestre, Husserl, e da sua escola fenomenológica, esta
estudante inquieta dedicou-se cada vez mais decididamente à filosofia. Aprendeu
sobretudo "a considerar tudo sem preconceitos e a rejeitar todas as
viseiras". O encontro com Max Scheler em Gotinga, proporcionou a Edith
Stein o primeiro contacto com as ideias católicas. Ela mesma escreve sobre
isto: "As barreiras dos preconceitos racionalistas, nos quais eu cresci
sem o saber, fecharam-se e o mundo da fé apareceu de repente diante de mim.
Dele fazem parte integrante as pessoas, com quem me relacionava diariamente e
eram por mim vistas com admiração".
A longa luta para uma
decisão pessoal de aderir à fé em Jesus Cristo terminou só em 1921, quando ela
começou a ler a "Vida de Santa Teresa de Ávila", livro escrito pela
própria Santa e encontrado na casa de uma amiga.
Ficou imediatamente
impressionada pela leitura e não a deixou enquanto não chegou ao fim.
"Quando terminei à leitura, disse a mim mesma: Esta é a verdade".
Esteve a lê-lo durante a noite toda, até ao amanhecer. Naquela noite ela
encontrou a verdade; não a verdade da filosofia, mas a Verdade em Pessoa, o
"Tu" amoroso de Deus. Edith Stein estava à procura da verdade e
encontrou Deus. Sem mais delongas, pediu para ser batizada e recebida na Igreja
católica.
7. A recepção do
Batismo não significou de modo algum para Edith Stein a ruptura com o seu povo
judeu. Pelo contrário, ela afirma: "Quando eu era uma jovem de catorze
anos deixei de praticar a religião judaica, e só depois do meu retorno a Deus é
que me senti judia". Ela sempre teve a consciência de que "pertencia
a Cristo, não só espiritualmente mas também por descendência". Sofreu
muito pela grande dor causada à mãe devido à sua conversão, mas continuava a
acompanhá-la à Sinagoga e recitava com ela os Salmos. À afirmação da mãe de que
também se podia ser piedosa sendo judia, ela respondeu: "Sem dúvida, mas
quando não se conheceu outra coisa".
Embora desde o
encontro com os escritos de Santa Teresa de Ávila o Carmelo tivesse sido a meta
de Edith Stein, ela teve de esperar mais de dez anos, quando então Cristo lhe
mostrou na oração o caminho para a entrada no Carmelo. Na sua atividade como
mestra e professora, no trabalho escolar e nas tarefas de formação,
desempenhada na maior parte em Espira e depois também em Monastério, ela
continuou a trabalhar por conciliar ciência e fé. Neste mister queria ser
apenas um instrumento do Senhor. "Quem vem a mim, quero conduzi-lo a
Ele".
Já nessa atividade
ela viveu como uma religiosa, fez os três votos privadamente e tornou-se uma
grande e inspirada mulher de oração. Estudando intensamente São Tomás de
Aquino, chega à conclusão de que é possível "praticar a ciência como um
serviço divino... Só em virtude desta convicção é que pude decidir, em plena
consciência, iniciar de novo (depois da conversão) um trabalho
científico". Apesar do seu grande apreço pela ciência, Edith Stein vai
percebendo com maior clareza que a essência do ser cristão não é o saber mas o
amar.
Quando enfim, em
1933, Edith Stein entrou no Carmelo de Colônia, este passo não significou para
ela uma fuga do mundo ou das próprias responsabilidades, mas uma participação
ainda mais decidida no seguimento da cruz de Cristo. No seu primeiro colóquio
com a Priora daquele Carmelo, ela disse: "O que pode ajudar-nos não é a
atividade humana, mas a paixão de Cristo.”
O meu desejo é
participar nela". Por isso mesmo, no momento da vestição não pôde
expressar outro desejo senão o de ser chamada, na vida religiosa, "da Cruz".
E, no santinho que recordava a sua profissão perpétua, ela pôs a frase de São
João da Cruz: "A minha única missão de agora em diante será amar ainda
mais".
8. Queridos irmãos e
irmãs. Com toda a Igreja, inclinamo-nos hoje diante desta grande mulher, a quem
de agora para o futuro poderemos chamar bem-aventurada na glória de Deus;
inclinamo-nos diante desta grande filha de Israel, que em Cristo, o Redentor,
descobriu a plenitude da sua fé e da missão para com o Povo de Deus.
Segundo a convicção
de Edith Stein, quem entra no Carmelo "não perde os seus, mas os
reencontra, pois a nossa vocação é precisamente a de ser para todos diante de
Deus. A partir do momento em que começou a entender o destino do povo de Israel
"sob o sinal da Cruz", a nossa nova Beata foi desejando cada vez mais
assimilar Cristo no seu profundo mistério de Redenção, para se sentir na
unidade espiritual com os múltiplos sofrimentos do homem e para expiar as
injustiças deste mundo que clamam ao céu. Como "Benedita da Cruz",
ela quis levar a sua cruz juntamente com a de Cristo pela salvação do seu povo,
da sua Igreja e do mundo inteiro. Ofereceu-se a Deus como "sacrifício
expiatório pela paz verdadeira", e sobretudo pelo seu povo oprimido e
humilhado. Depois de ter sabido que Deus de novo tinha com força pousado a Sua
mão sobre o seu povo, convenceu-se de que "o destino deste povo era também
o seu".
Na sua penúltima obra
teológica "A ciência da Cruz", que começara a escrever no Carmelo de
Echt como Irmã Teresa Benedita da Cruz que todavia não pôde concluir porque
teve de empreender o seu caminho da cruz – ela observa: "Quando falamos de
ciência da Cruz não entendemos... como pura teoria, mas expressamos uma verdade
viva, real e efetiva". Quando vislumbrou sobre ela, como uma nuvem
espessa, a ameaça de morte que pesava sobre o seu povo, mostrou-se disposta a
testemunhar com a própria vida o que aprendera anteriormente: "Há uma
vocação a padecer com Cristo e, como consequência, a colaborar na sua obra de
salvação... Cristo continua a viver nos seus membros e neles continua a sua
paixão; o sofrimento suportado em união com o Senhor é a Sua paixão, o qual
está inserido na grande obra de redenção e mediante ela se torna fecundo".
Com a sua irmã Rosa,
a Irmã Teresa Benedita da Cruz percorreu o caminho para o extermínio, unida ao
seu povo e "pelo" seu povo. Todavia, não aceitou passivamente o
sofrimento e a morte, mas uniu-os conscientemente ao Sacrifício expiatório do
nosso Salvador Jesus Cristo. Alguns anos antes, escrevera no seu testamento
espiritual: "Desde já aceito a morte que Deus me tem reservada, com
alegria e completa submissão à Sua santíssima vontade. Peço ao Senhor que se
digne aceitar, o meu sofrimento e a minha morte, para seu louvor e glória, por
todas as necessidades... da Santa Igreja". O Senhor escutou esta oração.
A Igreja propõe hoje
à nossa veneração e imitação a Beata Mártir Teresa Benedita da Cruz, exemplo de
seguimento heroico de Cristo. Abramo-nos à mensagem que ela nos dirige como
mulher do espírito e da ciência, que na ciência da Cruz conheceu o ápice de
toda a sabedoria; como uma grande filha do povo judeu e uma grande cristã no
meio de milhões de irmãos inocentes martirizados. Ela viu que a cruz se
aproximava de forma implacável, mas não fugiu atemorizada; pelo contrário,
animada pela esperança cristã, abraçou-a com amor e entrega total e penetrada
pelo mistério da fé pascal, saudou-a à sua chegada: "Ave Crux, spes
unica!".
Como disse na sua
breve Carta pastoral o vosso venerado Cardeal Höffner: "Edith Stein é um
dom de Deus, uma advertência e uma promessa para a nossa época. Possa ela
interceder junto de Deus por nós, pelo nosso povo e por todos os povos!".
9. Queridos irmãos e
irmãs. A Igreja do século XX vive hoje um grande dia! Inclinamo-nos
profundamente diante do testemunho da vida e da morte de Edith Stein, ilustre
filha de Israel e ao mesmo tempo filha do Carmelo, Irmã Teresa Benedita da
Cruz; uma personalidade que reúne na sua rica vida a síntese dramática do nosso
século. A síntese de uma história cheia de feridas profundas que ainda hoje
continuam a fazer sofrer, mas que homens e mulheres com sentido de
responsabilidade se esforçaram e continuam a esforçar-se por sanar; síntese ao
mesmo tempo da verdade plena sobre o homem, num coração que esteve inquieto e
insatisfeito "enquanto não encontrou a paz em Deus".
Ao dirigirmo-nos
espiritualmente para o lugar do martírio desta grande judia e mártir cristã,
para o lugar daquele acontecimento terrível que hoje se chama
"Shoah", escutamos a voz de Cristo, o Messias e Filho do homem, o
Senhor e Redentor.
Como mensageiro do
mistério insondável de Deus, Ele diz à Samaritana junto do poço de Jacob:
"A salvação vem
dos judeus. Mas vai chegar a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o
Pai deseja. Deus é espírito e os Seus adoradores em espírito e verdade é que O
devem adorar" (Jo. 4, 22-24).
Bendita seja Edith
Stein, Irmã Teresa Benedita da Cruz, uma verdadeira adoradora de Deus, em
espírito e verdade.
Sim, bendita!
Fonte:
Em Colônia, no Rito
de Beatificação, publicado no jornal L'Osservatore Romano, edição semanal em
português n. 20 (912), 17 de maio de 1987, págs. 5/6 (253/254).
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 4º
4º dia da NOVENA – 1ª parte da Homilia do Papa
São João Paulo II na cerimônia de beatificação da irmã Teresa Benedita da Cruz
(01/05/1987)
No final da liturgia
da Palavra, o Santo Padre pronunciou a seguinte homilia:
"Estes são os
que vieram da grande tribulação; lavaram os seus vestidos e os branquearam no
sangue do Cordeiro" (Apoc. 7, 14).
1. Entre estes homens
e mulheres bem-aventurados, saudamos hoje com veneração profunda e santa
alegria uma filha do povo de Israel, rica em sabedoria e fortaleza. Formada na
rígida escola da tradição de Israel e caracterizada por uma existência de
virtude e de renúncia na vida religiosa, ela demonstrou um ânimo heroico no
caminho para o campo de extermínio. Unida a Cristo crucificado, entregou a sua
vida "pela paz verdadeira" e "pelo povo": Edith Stein,
judia, filósofa, religiosa, mártir.
(...)Com a
beatificação de hoje realiza-se um desejo acalentado durante muito tempo, não
só pela Arquidiocese de Colônia, mas também por muitos cristãos e muitas
comunidades na Igreja. Há sete anos, a Conferência Episcopal Alemã apresentou
unanimemente este pedido à Santa Sé, e a este pedido uniram-se outros Bispos
simpatizantes da causa, de diversos Países. Por isso grande é a alegria que
todos nós sentimos hoje ao satisfazer este pedido e de poder nesta solene
liturgia, diante dos fiéis e em nome da Igreja, declarar a Irmã Teresa Benedita
da Cruz como Beata na glória de Deus. Poderemos a partir de agora venerá-la
como mártir e solicitar a sua intercessão junto do trono de Deus. Por isso me
alegro convosco, e sobretudo com as suas irmãs do Carmelo de Colônia e de Eeht,
e também com todos os que pertencem a esta Ordem religiosa. Além disso,
causa-nos sentimentos de alegria e de gratidão o facto de estarem também
presentes nesta celebração litúrgica irmãos e irmãs judeus, e em particular os
familiares de Edith Stein.
2.
"Manifestai-Vos no dia da nossa tribulação e fortalecei-nos, Senhor"
(Est. 14, l2). As palavras desta súplica, que escutamos na primeira leitura da liturgia
de hoje, pronuncia-as Ester, uma filha de Israel, em tempos do exílio da
Babilônia. A sua oração, dirigida a Deus, no momento de perigo mortal para ela
e para todo o se povo nos comove profundamente: "Meu Senhor, meu único Rei,
assisti-me no meu desamparo, porque não tenho outro socorro senão Vós, porque o
perigo é iminente. Senhor, escolhesses Israel entre todas as nações, e os
nossos pais, entre todos os seus antepassados, para fazer deles Vossa herança
perpétua... O Deus, poderoso sobre todas as coisas... livrai-nos...!"
(Est. 14, 3-19).
O medo da morte,
diante da qual Ester treme, surgiu quando, sob a influência do poderoso Aman,
um inimigo mortal dos Judeus, se tinha difundido em toda a Pérsia a ordem de
exterminar este povo. Com a ajuda de Deus e a entrega da sua própria vida,
Ester contribuiu de maneira decisiva para a salvação do seu povo.
3. Esta oração
suplicante, que remonta a mais de dois mil anos, é pela liturgia festiva deste
dia posta nos lábios da Serva de Deus Edith Stein, uma filha de Israel do nosso
século. A oração tornou-se de novo atual, dado que aqui, no coração da Europa,
foi uma vez mais concebido o plano de exterminar os judeus. Concebeu-o uma
ideologia desatinada, em nome de um racismo satânico, levando-o à prática com consequências
desastrosas. Enquanto se desenrolavam os dramáticos acontecimentos da segunda
Guerra Mundial, construíram-se rapidamente os campos de concentração e os
fornos crematórios. Nesses lugares terríveis encontraram a morte milhões de
filhos e de filhas de Israel de todas as idades, desde as crianças até aos
anciãos. O tremendo aparato de poder do Estado totalitário não poupou ninguém e
adotou as medidas mais cruéis também contra aqueles que tiveram a coragem de
defender os judeus.
4. Edith Stein morreu
no campo de concentração de Auschwítz, como filha do seu povo martirizado. Não
obstante a sua transferência de Colônia para o Carmelo de Echt, ela encontrou
ali apenas um refúgio provisório ante a crescente perseguição contra os judeus.
Depois da ocupação da Holanda, os nacional-socialistas começaram imediatamente
também ali o extermínio dos judeus, excluindo no início os judeus batizados.
Mas quando os Bispos católicos dos Países Baixos protestaram numa Carta
pastoral contra as deportações dos judeus, os detentores do poder vingaram-se
determinando também o extermínio dos judeus de fé católica.
Assim, a irmã Teresa
Benedita da Cruz, juntamente com a sua querida irmã Rosa, que se refugiara no
Carmelo de Echt, começou o seu caminho para o martírio. Quando chegou a hora de
deixar o Carmelo, Edith limitou-se a pegar a sua irmã pela mão e disse:
"Vem, ofereçamo-nos pelo nosso povo". Com a força de um discípulo de
Cristo e disposta a sacrificar-se por Ele, viu, mesmo na sua aparente
debilidade, um modo de prestar um último serviço ao seu povo.
Já alguns anos antes
ela se tinha comparado com a rainha Ester no exílio junto da corte persiana.
Numa das suas cartas lemos o seguinte: "Tenho a certeza de que o Senhor
aceitou a minha vida por todos os judeus. Penso continuamente na rainha Ester,
que foi levada do seu povo precisamente para se apresentar perante o rei em
favor do povo. Eu sou uma pequena Ester, muito pobre e fraca, mas o Rei que me
escolheu é infinitamente grande e misericordioso".
5. Caros irmãos e
irmãs. Juntamente com a oração de Ester, encontramos um trecho tirado da Carta
aos Gálatas. O Apóstolo Paulo escreve: "Quanto a mim, Deus me livre de me
gloriar a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim e eu para o mundo" (Gál. 6, 14). Também Edith Stein
encontrou no caminho da sua vida este mistério da cruz anunciado por São Paulo
aos cristãos nesta Carta. Edith Stein encontrou-se com Cristo, e este encontro
levou-a, passo a passo, à clausura do Carmelo. No campo de extermínio ela
morreu como filha de Israel "para glória do nome santíssimo de Deus",
e ao mesmo tempo como Irmã Teresa Benedita da Cruz, isto é, abençoada pela
cruz.
Toda a vida, de Edith
Stein é caracterizada por uma incansável busca da verdade e está iluminada pela
bênção da cruz de Cristo. Teve o seu primeiro encontro com a realidade da cruz
na pessoa de uma religiosíssima viúva de um colega de estudos, para a qual a
trágica morte do marido não foi ocasião de dúvida para a própria fé, mas uma circunstância
em que encontrou na cruz de Cristo a força e o consolo. Edith Stein escreveu
mais tarde sobre este episódio: "Foi o meu primeiro encontro com a cruz e
com a força que Deus dá àqueles que a levam... Nesse momento a minha
incredulidade derrocou e resplandeceu Cristo: Cristo no mistério da cruz".
A sua vida e o seu itinerário de cruz estão intimamente ligados ao destino do
povo judeu. Numa oração, confessa ao Senhor o que ela sabia: "que a sua
cruz agora era posta sobre os ombros do povo judeu" e todos os que
compreendessem isto "deveriam estar prontos a tomá-la sobre os próprios
ombros em nome de todos. Eu queria fazê-lo, se Ele me mostrasse o modo".
Ao mesmo tempo, ela tem a certeza interior de que Deus escutara a sua oração.
Quanto mais cruzes gamadas se viam pela rua, tanto mais se elevava a cruz de
Cristo na sua própria vida.
Quando entrou no
Carmelo de Colônia, com o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz para participar
de maneira ainda mais profunda no mistério da cruz de Cristo, ela sabia que tinha
"esposado o Senhor no sinal da cruz". No dia da sua primeira
profissão pareceu-lhe ser, como ela própria disse, "como a esposa do
Cordeiro". Estava convicta de que o seu Esposo celeste queria introduzi-la
ao mais íntimo do mistério da cruz.
Fonte:
Em Colônia, no Rito
de Beatificação, publicado no jornal L'Osservatore Romano, edição semanal em
português n. 20 (912), 17 de maio de 1987, págs. 5/6 (253/254).
domingo, 2 de agosto de 2015
Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 3º
3º dia da NOVENA – Biografia de Santa Edith
Stein, considerada padroeira dos universitários – O texto abaixo é a Parte 3 do
artigo de Renê Courtois
A SOMBRA DA CRUZ
O ano de 1933 se
iniciava sob inquietantes presságios: a chegada brutal do nacional socialismo
fazia prever perseguições próximas contra os judeus.
Uma tarde, durante a
quaresma, Edith Stein teve pela primeira vez uma notícia destas ameaças. Desde
esta hora, a dolorosa apreensão de tantos sofrimentos reservados a sua raça não
deveria deixá-la mais. No começo de abril, de passagem em Colônia, ela assistiu
a uma Hora Santa na capela do Carmelo Lindenthal. Nesta tarde houve entre o
Mestre e sua discípula, um compromisso secreto que deveria orientar daí em
diante todo o seu destino. Deixemos a palavra a Edith Stein: “Eu me dirigia ao
Senhor, nos diz ela, e Lhe dizia que sabia bem que sua Cruz pesaria daí por
diante sobre o povo de Israel. Estava pronta a percorrer este caminho. Que o
Senhor me indicasse apenas o que devia fazer. Quando terminou o ofício, eu
tinha a certeza interior de ter sido atendida. Mas não sabia ainda qual seria a
minha Cruz.”
Ela o saberia bem
cedo. De retorno a Munster, a 9 de abril seguinte, recebeu o aviso de que todo
ensino e toda publicação estavam interditos aos não arianos. Ela compreendeu que
sua carreira universitária estava terminada. Vários convites lhe foram feitos
do estrangeiro, especialmente da América do Sul. Mas sua decisão era
irrevogável. Há doze anos aspirava com toda a sua alma a vida contemplativa.
Não tinha soado a hora de realizar enfim o seu desejo íntimo? Não se lhe
poderia mais objetar com a necessidade de sua ação no mundo, uma vez que toda
atividade pública lhe era interdita.
O abade de Beuron
aquiesceu finalmente ao seu pedido. Imediatamente, Edith Stein deu os passos necessários
para sua admissão no carmelo de Colônia. Ela deixou Munster, em julho de 1937,
e passou um mês em Colônia. Enfim, partiu para Breslau, para se despedir
definitivamente dos seus.
Lá, tudo se ignorava
de sua decisão. Sua irmã Rosa, a quem ela se confiou em primeiro lugar, ficou
surpreendida, mas compreendeu e calou. Pouco a pouco ela se abriu com seus
irmãos e irmãs, pedindo-lhes que nada revelassem a sua mãe. Como outrora,
passava seus dias de espera na intimidade desta mãe venerada. Idosa, com 84
anos, sentava-se a sua mesa de trabalho e lhe confiava tudo que tinha no
coração. Jamais inquiriu dos projetos futuros de sua filha. Por sua vez, Edith
não desejava apressar a hora da dura revelação.
O momento, porém,
devia chegar. Devemos consignar aqui a emocionante descrição que Edith nos
deixou: No primeiro domingo de setembro, eu estava só em casa com mamãe. Ela
estava sentada, tricotando perto da janela. Eu estava ao pé dela. De repente,
ela me fez a pergunta tanto tempo esperada:
“- O que vais fazer
em Colônia, com as religiosas?
- Viver com elas! -
respondi
Mamãe não parou de
tricotar. Seu novelo de lã se desenrolou. Com as mãos trêmulas, procurou
ajeitá-lo. Eu ajudei, enquanto a nossa conversa continuava. Desde este momento
a paz tinha terminado. Sobre a casa, pairava uma pesada pressão. De tempos em
tempos mamãe me fazia uma pergunta ou outra. Seguia-se um silêncio. Meus irmãos
pensavam como minha mãe, mas não desejavam aumentar seu sofrimento. Um de seus
genros, contudo, mostrou-lhe que a minha decisão consumaria a minha ruptura com
o povo judeu justamente quando se aproximavam terríveis provações. Como esta
alusão a minha infidelidade deve ter feito sofrer minha mãe!”
Ela que aceitava com
o coração tão leve a Cruz que se abatia sobre sua raça, e que desejava carregar
diante de Deus! A separação me foi tão cruel, que ninguém poderia me dizer com
certeza, se tal ou qual maneira de agir teria sido a melhor. Eu tinha que dar
este passo nos mistérios da fé. Muitas vezes, durante estes dias, pensei: Qual
de nós duas, mamãe ou eu, não saberá mais resistir?
“Mas nós ambas aguentamos
até o último dia.”
A 12 de outubro,
aniversário de Edith e, ao mesmo tempo, festa judia dos Tabernáculos a jovem
acompanhou, uma vez mais, sua mãe à sinagoga. Durante o longo trajeto de volta
que sua velha mãe queria fazer a pé, a fim de abrir o coração com a filha, ela
lhe perguntou:
“- O sermão não foi
belo?
- Certamente mamãe!
- Então também se
pode ser piedosa entre os judeus?
- Por certo, se não
se aprendeu a conhecer outra coisa.” Ela teve então esta dolorosa reflexão:
“- Porque então
aprendeste a conhecer outra coisa? Eu não quero reprovar nada a Jesus. Ele pode
ter sido uma criatura muito bondosa. Mas por que ele quis se fazer Deus?”
“Neste dia havia
muita gente em nossa casa. Um após outro nossos hóspedes se despediram. Por fim
eu fiquei só, com mamãe. Com as mãos no rosto, ela começou a chorar. Eu me
coloquei atrás de sua cadeira e abracei docemente esta venerável cabeça branca.
Assim ficamos longo tempo, até que ela quis se deitar. Nesta noite, não
fechamos os olhos nem por um momento.”
O CARMELO
No dia seguinte pela
manhã Edith Stein partiu para Colônia, e, dois dias depois encontrava-se diante
desta clausura que há tanto tempo desejava transpor.
A 15 de outubro de
1933, com 42 anos de idade, Edith Stein terminava o estranho itinerário que a
conduzira de Husserl ao Carmelo. Daí em diante, começava uma nova estrada. A
estrada da irmã Teresa-Benedita da Cruz. Este foi o nome religioso que tornou,
a 15 de abril de 1934, ao receber o hábito. No dia seguinte a esta cerimônia, o
provincial dos Carmelitas pediu-lhe que retomasse daí por diante, em seu tempo
livre, seu trabalho científico de filosofia.
Assim logo se
encontrou em sua cela, entre seus livros. Aí comporia a principal obra de sua
vida: L´ être fini et l´être éternel, uma expicação da filosofia moderna, de
Descartes a Heidegger. Esta obra em dois volumes não pode ser publicada na
época, por causa dos decretos que impediam toda literatura não ariana.
Apesar do isolamento
do claustro, ela continuava em comunicação com a sua família. Cada semana, por
uma permissão especial, enviava uma carta a sua mãe. Por muito tempo suas
cartas não tiveram resposta. Afinal, recebeu uma carta, testemunha do amor
materno enfim vencedor. A partir deste momento, as cartas de sua irmã Rosa
traziam-lhe de cada vez algumas palavras de sua mãe. Durante o verão de 1936,
mulher admirável, com 87 anos de idade, caiu doente e seu estado piorou
rapidamente. A 14 de setembro, na festa de Exaltação da Santa Cruz, fazia-se no
Carmelo a cerimonia de renovação dos votos. Quando chegou a vez da irmã Tereza
da Cruz, ela teve de súbito a clara intuição: “Minha mãe está ao meu lado”. No
mesmo dia, um telegrama trouxe a notícia do falecimento. Sua mãe tinha expirado
na hora da renovação de seus votos.
Durante o Advento de
1936, Edith Stein teve a alegria de acolher sua irmã Rosa que recebeu afinal o
batismo, tanto tempo retardado para não ferir ainda mais a velha mãe.
O céu cobria de
nuvens cada vez mais sombrias. A perseguição nazista, longe de diminuir,
redobrava de violência. Era uma pérfida campanha contra a religião de um modo
geral, e contra as ordens religiosas em particular. A irmã Teresa temia que a
sua presença expusesse o Carmelo de Colônia a represálias. Assim, a sua partida
para a Holanda foi decidida.
Durante a noite de S.
Silvestre, em 1938, ela passou clandestinamente a fronteira e dirigiu-se ao
Carmelo de Echt, no Limburgo Holandês. Rapidamente adaptou-se. Às seis línguas
que já dominava, acrescentou o flamengo. Prosseguindo seus trabalhos
intelectuais, acabou seu estudo sobre S. João da Cruz: A Ciência da Cruz.
Nesta época, sua irmã
Rosa veio encontrá-la no Carmelo de Echt, como carmelita de terceiro grau.
O HOLOCAUSTO
10 de maio de 1940.
Em meio ao fragor das explosões e ao rugir dos motores, a possante máquina de
guerra nazista se põe em marcha. A Holanda é rapidamente ocupada. As
perseguições anti-semitas desenvolvem-se com violência.
Um perigo imediato
pesa, de novo, sobre a irmã Teresa da Cruz. Por isto, é decidida uma nova
evasão para a Suíça, para o Carmelo Le Pâquier, perto de Friburgo.
Era o começo de 1942.
As formalidades burocráticas se alongavam. Uma convocação da Gestapo já chamara
a religiosa a Maestricht e depois a Amsterdam. A sua presença não tinha
escapado à sinistra polícia. As ameaças se faziam cada vez mais temíveis.
Felizmente, tudo estava pronto para a partida... Mas não eram estes os
desígnios de Deus.
A 2 de agosto de
1942, a comunidade de Echt tinha se dirigido ao coro, como de costume, para a
oração matinal. Bateram na porta do convento. Dois oficiais apareceram e
solicitaram a presença das irmãs Stein. Estas, supondo que lhes traziam o
passaporte para a Suíça, deixaram a capela.
Ao entrar no
parlatório, empalideceram. Os SS as esperavam. Tiveram ordem de se aprontar
para deixar o Carmelo em dez minutos.
Edith Stein voltou ao
coro, ajoelhou-se uma última vez diante do Santíssimo Sacramento e deixou a
comunidade, com estas palavras: “Por favor, irmãs, rezem por nós.”
Os enérgicos
protestos da Madre Superiora não tiveram nenhum efeito. Rapidamente as duas
religiosas reuniram o que lhes permitiram levar: uma coberta, uma caneca, uma
colher e algumas provisões.
Na rua, onde uma
multidão se tinha reunido para protestar, estava um grupo dos SS. Fizeram
entrar as duas irmãs em uma viatura que partiu para um destino desconhecido.
Em Echt, onde a
angústia reinava, recebeu-se um telegrama do campo de concentração de
Amersfort. Edith Stein pedia algumas vestes quentes e seu breviário.
As irmãs enviaram
rapidamente a sua encomenda, por intermédio de jovens holandeses que puderam
entrar em comunicação com as duas religiosas. Eles as encontraram muito calmas,
sem a menor queixa, mas na incerteza total de seu futuro. Uma carta recebida
pouco depois, anunciava a sua partida iminente para leste. Veio ainda uma
palavra, última confidência que brilhou como uma última chama na noite: “A
ciência da Cruz não se pode adquirir sem que ela nos pese realmente sobre os
ombros. Desde o primeiro instante eu estava convencida, e a mim mesma me dizia:
Ave crux, spes unica...”
O silêncio total se
seguiu. Soube-se que a 6 de agosto, primeira 5a. feira do mês, um comboio de
judeus, quase todos convertidos, tinha partido em direção da Polônia.
O último traço
conhecido desta eminente religiosa é um pequeno bilhete a lápis remetido por
mão desconhecida a uma irmã de Friburgo: A caminho da Polônia. Lembranças da
Irmã Teresa Benedita da Cruz.
E, após, a noite.
Ignoramos onde terminou o seu calvário. Não se sabe em que lugar este olhar
profundo que tinha perscrutado sempre os enigmas do homem e do universo,
encontrou afinal a luz sem sombras.
Alguns disseram, com
certo fundamento ao que parece, que foi nas câmaras de gás do sinistro campo de
extermínio de Auschwitz, na Polônia. Mas nada foi confirmado oficialmente. Por
que então perseguir questões sem utilidade?
“Nós não a procuramos
mais na terra, escreviam as Carmelitas de Colônia, mas perto de Deus que
aceitou seu sacrifício e dará a recompensa ao povo pelo qual ela sofreu e
morreu.”
A notícia de sua
morte, numerosos testemunhos de admiração e de veneração chegaram de todos os
lugares da Alemanha. Por sugestão do professor Grabmann, o círculo cada vez
mais numeroso de seus amigos, antigos alunos e admiradores, fez votos de que,
por sua beatificação e canonização ela se transformasse em exemplo luminoso do
conhecimento e do amor de Deus.
Sua clareza não cessa
de se estender aos meios intelectuais e universitários. Como escreveu o jesuíta
alemão Frans Hillig: “É preciso que, graças aos jovens cristãos de todos os
países da Europa, o exemplo desta vida seja arrancado ao passado para que
continue neles cada vez mais vivo e atuante”.
Fim.
Fonte: Convertidos do
Século XX, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1960
Tradução: Hoche Luiz
Pulchério
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