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sábado, 8 de agosto de 2015

Livro "Quaresma Meditativa a São Miguel Arcanjo"


Irmãos, é com grande alegria que compartilho este trabalho edificante!
Busquei os melhores textos sobre a realidade espiritual dos Anjos. Neste livro você poderá fazer a Quaresma de São Miguel com textos diários para aprofundamento da sua fé. Você pode lê-lo também fora da quaresma acompanhando as 40 meditações quando quiser, na velocidade que preferir.





Nosso objetivo aqui é fazer uma Quaresma Meditativa. O que é isso? É um período forte de oração acompanhado por textos breves mas profundos para meditação e aprofundamento do tema para conhecimento e vivência. Aprendi a importância da leitura e meditação com os Beneditinos. Há muitas leituras que nos edificam enormemente e nos conduzem mais perto das coisas espirituais e maior intimidade e confiança em Deus. Este é o objetivo desta Quaresma Meditativa.

Então para cada dia desta quaresma venho trazer aqui uma riquíssima coletânea de textos, que tenho certeza, vai nos tocar profundamente, aumentando nosso amor a Deus e aos Santos Anjos. Se possível, busque fazer algumas anotações do que mais te marcou no texto, dos seus propósitos diante de Deus ou qualquer outra coisa que lhe inspirar.


Fazendo esta quaresma meditativa você estará embarcando numa verdadeira aventura! Entrará num túnel do tempo da história do mundo, dos homens e dos anjos, e com uma visão espiritual para enxergar muito além do que tem visto até então.

Você lerá o que disse os Escritos Bíblicos Sagrados, os Santos Padres, os Místicos, os Papas, Santos e outras autoridades. Também ouvirá os próprios anjos, São Miguel e Nossa Senhora nas Revelações Particulares mais respeitadas.

Para adquirir o livro acesse o link da loja de livros on line, onde você pode adquirir a versão impressa ou em formato ebook (epub):



Deus te abençoe!
Alessandro Silva

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 9º

9º dia da NOVENA – Hino ao Espírito Santo, de Edith Stein

Num clima místico, poucos meses antes da sua deportação para Auschwitz, nasce uma das mais belas orações de Edith Stein, Santa Benedita da Cruz. Um hino ao Espírito Santo. Foi o seu «último pentecostes».

I
Quem és tu, Doce luz que me preenche e ilumina a obscuridade do meu coração?
Conduzes-me como a mão de uma mãe; E se me soltasses, não saberia nem dar mais um passo.
És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si. Se Fosse abandonado por ti,
cairia no abismo do nada, de onde tu o elevas ao Ser.
Tu, mais próximo de mim que eu mesmo, e mais íntimo que minha intimidade,
E, sem dúvida, permaneces inalcançável e incompreensível,
E que faz brotar todo nome: Espírito Santo — Amor eterno!

II
Não és Tu, O doce maná,
que do coração do Filho flui para o meu, alimento dos anjos e dos bem aventurados?
Aquele que da morte à vida se elevou, Também a mim despertou a uma nova vida
Do sono da morte. E nova vida me doa
Dia após dia. E um dia me cumulará de plenitude.
Vida de minha Vida. Sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, – Vida Eterna!


III
Tu és o raio, que cai do Trono do Juiz eterno
e irrompe na noite da alma, que nunca se conheceu a si mesma?
Misericordioso e impassível, penetras nas profundezas escondidas.
Se ela se assusta ao ver-se a si mesma, Concedes lugar ao santo temor,
princípio de toda sabedoria, que vem do alto,
e no alto com firmeza nos unes à tua obra, que nos faz novos,
Espírito Santo — Raio penetrante!

IV
Tu és a plenitude do Espírito, e da força
com a qual o Cordeiro rompe o selo, do segredo eterno de Deus?
Impulsionados por ti, os mensageiros do Juiz
cavalgam pelo mundo, e com espada afiada separam
o reino da luz do reino da noite. Então surgirá um novo céu
E uma nova terra, e tudo retorna ao seu justo lugar
graças a teu alento: Espírito Santo — Força triunfante!

V
Tu és o mestre construtor da catedral eterna, que se eleva da terra aos céus?
Por ti vivificadas as colunas se elevam, Para o alto e permanecem imóveis e firmes.
Marcadas com o nome eterno de Deus, se elevam para a luz
sustentando a cúpula, que cobre, qual coroa,
a santa catedral, tua obra transformadora do mundo,
Espírito Santo — Mão criadora!

VI
Tu és quem criou o claro espelho, Próximo ao trono do Altíssimo,
como um mar de cristal, aonde a divindade se contempla amando?
Tu te inclinas, sobre a obra mais bela da criação,
e resplandecente te ilumina, com teu mesmo esplendor.
E a pura beleza de todos os seres, Unida à amorosa figura da Virgem,
tua esposa sem mancha: Espírito Santo — Criador do Universo!

VII
Tu és o doce canto do amor, e do santo recato,
que eternamente ressoa, diante do trono da Trindade,
e desposa consigo os sons puros de todos os seres?
A harmonia, que une os membros com a Cabeça,
onde cada um encontra feliz, o sentido secreto de seu ser,
e jubilante irradia, livremente desprendido em teu fluir:
Espírito Santo — Júbilo eterno!


Fonte:

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 8º

8º dia da NOVENA – «Edith Stein, mestra de espiritualidade» - Entrevista com o carmelita Jesus Castellano

ROMA, sexta-feira, 26 de março de 2004 (ZENIT.org).- Edith Stein (1891-1942), judia, filósofa, mártir, carmelita santa e co-patrona da Europa, considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o padre carmelita Jesús Castellano, ocd, que nesta sexta-feira pela tarde ministra uma conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano (Itália).

«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma. O padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia, liturgia e espiritualidade.

--Podemos considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano II?

Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a abadia de Beuron, onde o abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.
Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa, como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo. Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.

--Por que não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?

Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de João da Cruz. Seus escritos são numerosos.

Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo, sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.


--Edith, antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a oração litúrgica com a oração pessoal?

--Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência.
Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só.
E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos.

--É exagero ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?

--Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque de delicadeza e de profundidade.
A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith, sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.

--O que é a espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?

--Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.

--O que ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?

--Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do futuro.
Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja. No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia eclesial e pelo decoro das celebrações. Edith Stein contribuiu em tudo isto com a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos mistérios.
(26 de Março de 2004) © Innovative Media Inc.


Fonte:

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 7º

7º dia da NOVENA – CARTA DO PAPA SÃO JOÃO PAULO II PROCLAMANDO SANTA EDITH STEIN COMO CO-PADROEIRA DA EUROPA
CARTA APOSTÓLICA
EM FORMA DE "MOTU PROPRIO"
PARA A PROCLAMAÇÃO 
DE SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA, 
SANTA CATARINA DE SENA
E SANTA BENEDITA DA CRUZ 
CO-PADROEIRAS DA EUROPA
JOÃO PAULO PP. II
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA
 (...)
8. Com Edith Stein Santa Teresa Benedita da Cruz encontramo-nos num diferente ambiente histórico-cultural. De facto, ela conduz-nos ao centro deste século atormentado, apontando as esperanças por ele acesas, mas também as contradições e as falências que o caracterizaram. Edith não provém, como Brígida e Catarina, de uma família cristã. Nela tudo indica o tormento da procura e a fadiga da "peregrinação" existencial. Mesmo depois de ter alcançado a verdade na paz da vida contemplativa, ela teve de viver o mistério da Cruz até ao fundo.

Nasceu em 1891 de uma família hebraica de Breslau, que nessa época era território alemão. O gosto que ela desenvolveu pela filosofia, abandonando a prática religiosa inspirada pela sua mãe, ter-lhe-ia sugerido, mais que um caminho de santidade, uma vida conduzida pela nota do puro "racionalismo". A graça, porém, aguardava-a nos meandros do pensamento filosófico: tendo percorrido o caminho da corrente fenomenológica, ela soube recolher a instância de uma realidade objetiva que, ao invés de reconduzir ao sujeito, precedia e determinava o conhecimento, devendo ser examinada com um rigoroso esforço de objetividade. É necessário escutá-la, fixando-a sobretudo no ser humano, devido àquela capacidade de "empatia" expressão que lhe era muito querida que permite, de certo modo, incorporar o que é vivido pelos demais (cf. E. Stein, O problema da empatia).


Foi nesta tensão de escuta que ela se encontrou, por um lado com os testemunhos da experiência espiritual cristã oferecida por Santa Teresa de Ávila e de outros grandes místicos, dos quais se tornou discípula e propagadora, e por outro lado com a antiga tradição do pensamento cristão, consolidada no tomismo. Por este caminho ela chegou primeiro ao baptismo e, depois, à escolha da vida contemplativa na Ordem carmelitana. Tudo se desenrolou no contexto de um itinerário existencial bastante movimentado, marcado não só pela busca da vida interior, mas pelo empenhamento no estudo e no ensino, que ela realizou com dedicação admirável. Foi de grande apreço, sobretudo no seu tempo, a sua obra a favor da promoção social da mulher, e são realmente penetrantes as páginas com as quais ela explorou a riqueza da feminilidade e a missão da mulher do ponto de vista humano e religioso (cf. E. Stein, A mulher. A sua tarefa, segundo a natureza e a graça).

9. O encontro com o cristianismo não foi motivo para ela repudiar as suas raízes hebraicas; pelo contrário, ajudou-a a redescobri-las em plenitude. Isto, porém, não lhe poupou a incompreensão por parte dos seus familiares. Sobretudo a desaprovação da própria mãe lhe causou uma dor intensa. Na verdade, todo o seu caminho de perfeição cristã se distinguiu não só pela solidariedade humana para com o seu povo de origem, mas também por uma verdadeira partilha espiritual com a vocação dos filhos de Abraão, designados pelo mistério da chamada e dos "dons irrevogáveis" de Deus (cf. Rm 11, 29).

De modo particular, ela fez próprio o sofrimento do povo judeu, na medida que este aumentava naquela feroz perseguição nazista que permanece, juntamente com outras graves expressões do totalitarismo, uma das mais obscuras e vergonhosas manchas da Europa do nosso século. Sentiu então que, no extermínio sistemático dos judeus, a cruz de Cristo era carregada pelo seu povo, e assumiu-a na sua pessoa com a sua deportação e a execução no tristemente célebre campo de Auschwitz-Birkenau. O seu grito funde-se com o de todas as vítimas daquela horrível tragédia, unido porém ao brado de Jesus, que assegura ao sofrimento humano uma misteriosa e perene fecundidade. A sua imagem de santidade permanece para sempre ligada ao drama da sua morte violenta, ao lado de tantos que a padeceram juntamente com ela. E permanece como um anúncio do evangelho da Cruz, com o qual ela se quis identificar no seu mesmo nome de religiosa.
Hoje, vemos Teresa Benedita da Cruz reconhecer no seu testemunho de vítima inocente, por um lado a imitação do Cordeiro imaculado e a protesta levantada contra todas as violações dos direitos fundamentais da pessoa e, por outro, o penhor daquele renovado encontro de judeus e cristãos, que na linha auspiciada pelo Concílio Vaticano II, está a conhecer uma prometedora fase de abertura recíproca. Declarar hoje Edith Stein co-Padroeira da Europa significa colocar no horizonte do velho Continente um estandarte de respeito, de tolerância e de hospitalidade que convida os homens e as mulheres a entenderem-se e a aceitarem-se, para além das diferenças étnicas, culturais e religiosas, formando assim uma sociedade verdadeiramente fraterna.

(...)

Dado em Roma, junto de São Pedro, a 1 de Outubro de 1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.
 IOANNES PAULUS PP. II


Fonte:

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 6º

6º dia da NOVENA – HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II NA CERIMÓNIA DE CANONIZAÇÃO DE EDITH STEIN
11 de Outubro de 1998
“1. Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Gl 6, 14).
As palavras de São Paulo aos Gálatas, que acabámos de escutar, adaptam-se bem à experiência humana e espiritual de Teresa Benedita da Cruz, que hoje é solenemente inscrita no álbum dos santos. Também ela pode repetir com o Apóstolo: Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.
A cruz de Cristo! No seu constante florescimento, a árvore da Cruz dá sempre renovados frutos de salvação. Por isso, os fiéis olham com confiança para a Cruz, haurindo do seu mistério de amor a coragem e o vigor para caminhar com fidelidade nas pegadas de Cristo crucificado e ressuscitado. Assim, a mensagem da Cruz entrou no coração de muitos homens e mulheres, transformando a sua existência. Um exemplo eloquente desta extraordinária renovação interior é a vicissitude espiritual de Edith Stein. Uma jovem em busca da verdade, graças ao trabalho silencioso da graça divina, tornou-se santa e mártir: é Teresa Benedita da Cruz, que hoje repete do céu a todos nós as palavras que caracterizaram a sua existência: «Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de Jesus Cristo».

2. No dia 1 de Maio de 1987, durante a minha visita pastoral na Alemanha, tive a alegria de proclamar Beata, na cidade de Colónia, esta generosa testemunha da fé. Hoje, a onze anos de distância aqui em Roma, na Praça de São Pedro, é-me dado apresentar solenemente esta eminente filha de Israel e filha fiel da Igreja como Santa perante o mundo inteiro. Assim como nessa data, também hoje nos inclinamos diante da memória de Edith Stein, proclamando o testemunho invicto que ela deu durante a vida e sobretudo com a morte. Ao lado de Teresa de Ávila e de Teresa de Lisieux, esta outra Teresa vai colocar-se no meio da plêiade de santos e santas que honram a Ordem carmelitana.
Caríssimos Irmãos e Irmãs, que vos congregastes para esta solene celebração, dêmos glória a Deus pela obra que realizou em Edith Stein.

3. Saúdo os numerosos peregrinos vindos a Roma, com um particular pensamento para os membros da família Stein, que quiseram estar conosco nesta feliz circunstância. Uma cordial saudação dirige-se também à representação da Comunidade carmelitana, que se tornou a «segunda família» para Teresa Benedita de Cruz. Depois, dou as minhas boas-vindas à delegação oficial da República Federal da Alemanha, chefiada pelo Chanceler Federal resignatário, Helmut Kohl, a quem saúdo com deferente cordialidade. Além disso, cumprimento os representantes das regiões de Nordrhein-Westfalen e Rheinland-Pfalz, bem como o Primeiro Presidente da Câmara Municipal de Colónia. Inclusivamente da minha Pátria veio uma delegação oficial, guiada pelo Primeiro-Ministro Jerzy Buzek. Dirijo-lhe uma cordial saudação. Depois, quero reservar uma especial menção aos peregrinos das dioceses de Vratislávia, Colónia, Monastério, Espira, Cracóvia e Bielsko-Žywiec, presentes com os seus Bispos e sacerdotes. Eles unem-se ao numeroso grupo de fiéis vindos da Alemanha, dos Estados Unidos da América e da minha Pátria, a Polónia.


4. Diletos Irmãos e Irmãs! Porque era judia, Edith Stein foi deportada juntamente com a irmã Rosa e muitos outros judeus dos Países Baixos para o campo de concentração de Auschwitz, onde com eles encontrou a morte nas câmaras de gás. Hoje recordamo-nos de todos com profundo respeito. Poucos dias antes da sua deportação, a quem lhe oferecia uma possibilidade de salvar a vida, a religiosa respondera: «Não o façais! Por que deveria eu ser excluída? A justiça não consiste acaso no facto de eu não obter vantagem do meu baptismo? Se não posso compartilhar a sorte dos meus irmãos e irmãs, num certo sentido a minha vida é destruída».

Doravante, ao celebrarmos a memória da nova Santa, não poderemos deixar de recordar todos os anos também o Shoah, aquele atroz plano de eliminação de um povo, que custou a vida a milhões de irmãos e irmãs judeus. O Senhor faça brilhar o seu rosto sobre eles, concedendo-lhes a paz (cf. Nm 6, 25s.).

Por amor de Deus e do homem, lanço de novo um premente brado: nunca mais se repita uma semelhante iniciativa criminosa para nenhum grupo étnico, povo e raça, em qualquer recanto da terra! É um brado que dirijo a todos os homens e mulheres de boa vontade; a todos aqueles que creem no Deus eterno e justo; a todos aqueles que se sentem unidos em Cristo, Verbo de Deus encarnado. Aqui, todos nós devemos ser solidários: é a dignidade humana que está em jogo. Só existe uma única família humana. É isto que a nova Santa afirmou com grande insistência: «O nosso amor pelo próximo - escrevia - é a medida do nosso amor a Deus. Para os cristãos - e não só para eles - ninguém é "estrangeiro". O amor de Cristo não conhece fronteiras».

5. Estimados Irmãos e Irmãs! O amor de Cristo foi o fogo que ardeu a vida de Teresa Benedita da Cruz. Antes ainda de se dar conta, ela foi completamente arrebatada por ele. No início, o seu ideal foi a liberdade. Durante muito tempo, Edith Stein viveu a experiência da busca. A sua mente não se cansou de investigar e o seu coração de esperar. Percorreu o árduo caminho da filosofia com ardor apaixonado e no fim foi premiada: conquistou a verdade; antes, foi por ela conquistada. De facto, descobriu que a verdade tinha um nome: Jesus Cristo, e a partir daquele momento o Verbo encarnado foi tudo para ela. Olhando como Carmelita para este período da sua vida, escreveu a uma Beneditina: «Quem procura a verdade, consciente ou inconscientemente, procura a Deus».
Embora sua mãe a tenha educado na religião hebraica, aos 14 anos de idade Edith Stein, «consciente e propositadamente desacostumou-se da oração». Só queria contar consigo mesma, preocupada em afirmar a própria liberdade nas opções de vida. No fim do longo caminho, foi-lhe dado chegar a uma surpreendente conclusão: só quem se une ao amor de Cristo se torna verdadeiramente livre.

A experiência desta mulher, que enfrentou os desafios de um século atormentado como o nosso, é para nós exemplar: o mundo moderno ostenta a porta atraente do permissivismo, ignorando a porta estreita do discernimento e da renúncia. Dirijo-me especialmente a vós, jovens cristãos, em particular aos numerosos ministrantes reunidos em Roma nestes dias: evitai conceber a vossa vida como uma porta aberta a todas as opções! Escutai a voz do vosso coração! Não permaneçais na superfície, mas ide até ao fundo das coisas! E quando chegar o momento, tende a coragem de vos decidirdes! O Senhor espera que coloqueis a vossa liberdade nas suas mãos misericordiosas.

6. Santa Teresa Benedita da Cruz conseguiu compreender que o amor de Cristo e a liberdade do homem se entretecem, porque o amor e a verdade têm uma relação intrínseca. A busca da verdade e a sua tradução no amor não lhe pareciam ser contrastantes entre si; pelo contrário, compreendeu que estas se interpelam reciprocamente. No nosso tempo, a verdade é com frequência interpretada como a opinião da maioria. Além disso, é difundida a convicção de que se deve usar a verdade também contra o amor, ou vice-versa. Todavia, a verdade e o amor têm necessidade uma do outro. A Irmã Teresa Benedita é testemunha disto. «Mártir por amor», ela deu a vida pelos seus amigos e no amor não se fez superar por ninguém. Ao mesmo tempo, procurou com todo o seu ser a verdade, da qual escrevia: «Nenhuma obra espiritual vem ao mundo sem grandes sofrimentos. Ela desafia sempre o homem inteiro». A Irmã Teresa Benedita da Cruz diz a todos nós: Não aceiteis como verdade nada que seja isento de amor. E não aceiteis como amor nada que seja isento de verdade!

7. Enfim, a nova Santa ensina-nos que o amor a Cristo passa através da dor. Quem ama verdadeiramente, não se detém diante da perspectiva do sofrimento: aceita a comunhão na dor com a pessoa amada. Consciente do que comportava a sua origem judaica, Edith Stein pronunciou palavras eloquentes a este respeito: «Debaixo da cruz, compreendi a sorte do povo de Deus... Efectivamente, hoje conheço muito melhor o que significa ser a esposa do Senhor no sinal da Cruz. Mas dado que se trata de um mistério, isto jamais poderá ser compreendido somente com a razão». Pouco a pouco, o mistério da Cruz impregnou toda a sua vida, até a impelir rumo à oferta suprema. Como esposa na Cruz, a Irmã Teresa Benedita não escreveu apenas páginas profundas sobre a «ciência da cruz», mas percorreu até ao fim o caminho da escola da Cruz. Muitos dos nossos contemporâneos quereriam fazer com que a Cruz se calasse. Mas nada é mais eloquente que a Cruz que se quer silenciar! A verdadeira mensagem da dor é uma lição de amor. O amor torna o sofrimento fecundo e este aprofunda aquele. Através da experiência da Cruz, Edith Stein pôde abrir um caminho rumo a um novo encontro com o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé e a cruz revelaram-se-lhe inseparáveis. Amadurecida na escola da Cruz, ela descobriu as raízes às quais estava ligada a árvore da própria vida. Compreendeu que lhe era muito importante «ser filha do povo eleito e pertencer a Cristo não só espiritualmente, mas inclusive mediante um vínculo sanguíneo».

8. «Deus é espírito e aqueles que O adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4, 24). Caríssimos Irmãos e Irmãs, com estas palavras o divino Mestre entretém-se com a Samaritana junto do poço de Jacob. Quanto Ele deu à sua ocasional mas atenta interlocutora, encontramo-lo presente também na vida de Edith Stein, na sua «subida ao Monte Carmelo ». A profundidade do mistério divino tornou-se-lhe perceptível no silêncio da contemplação. Ao longo da sua existência, enquanto amadurecia no conhecimento de Deus adorando-O em espírito e verdade, ela experimentava cada vez mais claramente a sua específica vocação de subir à cruz juntamente com Cristo, de abraçá-la com serenidade e confiança, de amá-la seguindo as pegadas do seu dilecto Esposo: hoje, Santa Teresa Benedita da Cruz é-nos indicada como modelo em que nos devemos inspirar e como protectora à qual havemos de recorrer. Dêmos graças a Deus por este dom. A nova Santa seja para nós um exemplo do nosso compromisso no serviço da liberdade e na nossa busca da verdade. O seu testemunho sirva para tornar cada vez mais sólida a ponte da recíproca compreensão entre judeus e cristãos. Santa Teresa Benedita da Cruz, ora por nós! Amém.


Fonte:

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 5º

5º dia da NOVENA – 2ª parte da Homilia do Papa São João Paulo II na cerimônia de beatificação da irmã Teresa Benedita da Cruz

6. Teresa, a abençoada pela cruz, este é o nome daquela mulher que iniciou o seu caminho espiritual com a convicção de que não existia absolutamente nenhum Deus. Nos anos da sua juventude e dos seus estudos, a sua vida não tinha ainda sido marcada pela cruz de Cristo; no entanto, esta constituía já o objeto da constante procura e do estudo da sua viva inteligência. Quando tinha quinze anos, na sua cidade natal, Breslávia, Edith, nascida numa família judia, decidiu "deixar de rezar", como ela mesma confessou. Apesar de ter sido profundamente impressionada pela forte fé da sua mãe, transcorreu os anos da juventude e de estudos com espírito ateístico.

Considerava inadmissível a existência de um Deus pessoal.
Nos anos dos seus estudos de Psicologia, Filosofia, História e Filologia germânica em Breslávia, Gotinga e Friburgo, Deus não ocupava nenhum lugar na sua vida. Todavia, professava um "idealismo ético muito elevado". De acordo com o seu grande talento, intelectual, não quis aceitar nada que não fosse provado, nem sequer a fé dos seus pais. Desejava por si mesma ir ao fundamento das coisas.

Por isso busca incansavelmente a verdade. Mais tarde, olhando para essa época de inquietude espiritual, reconheceu esse tempo como uma etapa importante do seu processo de maturação interior, afirmando: "A minha busca da verdade era uma verdadeira e própria oração" – maravilhosa frase de consolo para todos os que têm dificuldade em crer em Deus! A procura da verdade é já no mais íntimo uma busca de Deus.


Sob a forte influência do seu mestre, Husserl, e da sua escola fenomenológica, esta estudante inquieta dedicou-se cada vez mais decididamente à filosofia. Aprendeu sobretudo "a considerar tudo sem preconceitos e a rejeitar todas as viseiras". O encontro com Max Scheler em Gotinga, proporcionou a Edith Stein o primeiro contacto com as ideias católicas. Ela mesma escreve sobre isto: "As barreiras dos preconceitos racionalistas, nos quais eu cresci sem o saber, fecharam-se e o mundo da fé apareceu de repente diante de mim. Dele fazem parte integrante as pessoas, com quem me relacionava diariamente e eram por mim vistas com admiração".

A longa luta para uma decisão pessoal de aderir à fé em Jesus Cristo terminou só em 1921, quando ela começou a ler a "Vida de Santa Teresa de Ávila", livro escrito pela própria Santa e encontrado na casa de uma amiga.
Ficou imediatamente impressionada pela leitura e não a deixou enquanto não chegou ao fim. "Quando terminei à leitura, disse a mim mesma: Esta é a verdade". Esteve a lê-lo durante a noite toda, até ao amanhecer. Naquela noite ela encontrou a verdade; não a verdade da filosofia, mas a Verdade em Pessoa, o "Tu" amoroso de Deus. Edith Stein estava à procura da verdade e encontrou Deus. Sem mais delongas, pediu para ser batizada e recebida na Igreja católica.
7. A recepção do Batismo não significou de modo algum para Edith Stein a ruptura com o seu povo judeu. Pelo contrário, ela afirma: "Quando eu era uma jovem de catorze anos deixei de praticar a religião judaica, e só depois do meu retorno a Deus é que me senti judia". Ela sempre teve a consciência de que "pertencia a Cristo, não só espiritualmente mas também por descendência". Sofreu muito pela grande dor causada à mãe devido à sua conversão, mas continuava a acompanhá-la à Sinagoga e recitava com ela os Salmos. À afirmação da mãe de que também se podia ser piedosa sendo judia, ela respondeu: "Sem dúvida, mas quando não se conheceu outra coisa".

Embora desde o encontro com os escritos de Santa Teresa de Ávila o Carmelo tivesse sido a meta de Edith Stein, ela teve de esperar mais de dez anos, quando então Cristo lhe mostrou na oração o caminho para a entrada no Carmelo. Na sua atividade como mestra e professora, no trabalho escolar e nas tarefas de formação, desempenhada na maior parte em Espira e depois também em Monastério, ela continuou a trabalhar por conciliar ciência e fé. Neste mister queria ser apenas um instrumento do Senhor. "Quem vem a mim, quero conduzi-lo a Ele".

Já nessa atividade ela viveu como uma religiosa, fez os três votos privadamente e tornou-se uma grande e inspirada mulher de oração. Estudando intensamente São Tomás de Aquino, chega à conclusão de que é possível "praticar a ciência como um serviço divino... Só em virtude desta convicção é que pude decidir, em plena consciência, iniciar de novo (depois da conversão) um trabalho científico". Apesar do seu grande apreço pela ciência, Edith Stein vai percebendo com maior clareza que a essência do ser cristão não é o saber mas o amar.

Quando enfim, em 1933, Edith Stein entrou no Carmelo de Colônia, este passo não significou para ela uma fuga do mundo ou das próprias responsabilidades, mas uma participação ainda mais decidida no seguimento da cruz de Cristo. No seu primeiro colóquio com a Priora daquele Carmelo, ela disse: "O que pode ajudar-nos não é a atividade humana, mas a paixão de Cristo.”

O meu desejo é participar nela". Por isso mesmo, no momento da vestição não pôde expressar outro desejo senão o de ser chamada, na vida religiosa, "da Cruz". E, no santinho que recordava a sua profissão perpétua, ela pôs a frase de São João da Cruz: "A minha única missão de agora em diante será amar ainda mais".

8. Queridos irmãos e irmãs. Com toda a Igreja, inclinamo-nos hoje diante desta grande mulher, a quem de agora para o futuro poderemos chamar bem-aventurada na glória de Deus; inclinamo-nos diante desta grande filha de Israel, que em Cristo, o Redentor, descobriu a plenitude da sua fé e da missão para com o Povo de Deus.

Segundo a convicção de Edith Stein, quem entra no Carmelo "não perde os seus, mas os reencontra, pois a nossa vocação é precisamente a de ser para todos diante de Deus. A partir do momento em que começou a entender o destino do povo de Israel "sob o sinal da Cruz", a nossa nova Beata foi desejando cada vez mais assimilar Cristo no seu profundo mistério de Redenção, para se sentir na unidade espiritual com os múltiplos sofrimentos do homem e para expiar as injustiças deste mundo que clamam ao céu. Como "Benedita da Cruz", ela quis levar a sua cruz juntamente com a de Cristo pela salvação do seu povo, da sua Igreja e do mundo inteiro. Ofereceu-se a Deus como "sacrifício expiatório pela paz verdadeira", e sobretudo pelo seu povo oprimido e humilhado. Depois de ter sabido que Deus de novo tinha com força pousado a Sua mão sobre o seu povo, convenceu-se de que "o destino deste povo era também o seu".

Na sua penúltima obra teológica "A ciência da Cruz", que começara a escrever no Carmelo de Echt como Irmã Teresa Benedita da Cruz que todavia não pôde concluir porque teve de empreender o seu caminho da cruz – ela observa: "Quando falamos de ciência da Cruz não entendemos... como pura teoria, mas expressamos uma verdade viva, real e efetiva". Quando vislumbrou sobre ela, como uma nuvem espessa, a ameaça de morte que pesava sobre o seu povo, mostrou-se disposta a testemunhar com a própria vida o que aprendera anteriormente: "Há uma vocação a padecer com Cristo e, como consequência, a colaborar na sua obra de salvação... Cristo continua a viver nos seus membros e neles continua a sua paixão; o sofrimento suportado em união com o Senhor é a Sua paixão, o qual está inserido na grande obra de redenção e mediante ela se torna fecundo".

Com a sua irmã Rosa, a Irmã Teresa Benedita da Cruz percorreu o caminho para o extermínio, unida ao seu povo e "pelo" seu povo. Todavia, não aceitou passivamente o sofrimento e a morte, mas uniu-os conscientemente ao Sacrifício expiatório do nosso Salvador Jesus Cristo. Alguns anos antes, escrevera no seu testamento espiritual: "Desde já aceito a morte que Deus me tem reservada, com alegria e completa submissão à Sua santíssima vontade. Peço ao Senhor que se digne aceitar, o meu sofrimento e a minha morte, para seu louvor e glória, por todas as necessidades... da Santa Igreja". O Senhor escutou esta oração.

A Igreja propõe hoje à nossa veneração e imitação a Beata Mártir Teresa Benedita da Cruz, exemplo de seguimento heroico de Cristo. Abramo-nos à mensagem que ela nos dirige como mulher do espírito e da ciência, que na ciência da Cruz conheceu o ápice de toda a sabedoria; como uma grande filha do povo judeu e uma grande cristã no meio de milhões de irmãos inocentes martirizados. Ela viu que a cruz se aproximava de forma implacável, mas não fugiu atemorizada; pelo contrário, animada pela esperança cristã, abraçou-a com amor e entrega total e penetrada pelo mistério da fé pascal, saudou-a à sua chegada: "Ave Crux, spes unica!".

Como disse na sua breve Carta pastoral o vosso venerado Cardeal Höffner: "Edith Stein é um dom de Deus, uma advertência e uma promessa para a nossa época. Possa ela interceder junto de Deus por nós, pelo nosso povo e por todos os povos!".

9. Queridos irmãos e irmãs. A Igreja do século XX vive hoje um grande dia! Inclinamo-nos profundamente diante do testemunho da vida e da morte de Edith Stein, ilustre filha de Israel e ao mesmo tempo filha do Carmelo, Irmã Teresa Benedita da Cruz; uma personalidade que reúne na sua rica vida a síntese dramática do nosso século. A síntese de uma história cheia de feridas profundas que ainda hoje continuam a fazer sofrer, mas que homens e mulheres com sentido de responsabilidade se esforçaram e continuam a esforçar-se por sanar; síntese ao mesmo tempo da verdade plena sobre o homem, num coração que esteve inquieto e insatisfeito "enquanto não encontrou a paz em Deus".

Ao dirigirmo-nos espiritualmente para o lugar do martírio desta grande judia e mártir cristã, para o lugar daquele acontecimento terrível que hoje se chama "Shoah", escutamos a voz de Cristo, o Messias e Filho do homem, o Senhor e Redentor.

Como mensageiro do mistério insondável de Deus, Ele diz à Samaritana junto do poço de Jacob:
"A salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os Seus adoradores em espírito e verdade é que O devem adorar" (Jo. 4, 22-24).

Bendita seja Edith Stein, Irmã Teresa Benedita da Cruz, uma verdadeira adoradora de Deus, em espírito e verdade.
Sim, bendita!

Fonte:

Em Colônia, no Rito de Beatificação, publicado no jornal L'Osservatore Romano, edição semanal em português n. 20 (912), 17 de maio de 1987, págs. 5/6 (253/254).

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 4º



4º dia da NOVENA – 1ª parte da Homilia do Papa São João Paulo II na cerimônia de beatificação da irmã Teresa Benedita da Cruz

(01/05/1987)

No final da liturgia da Palavra, o Santo Padre pronunciou a seguinte homilia:
"Estes são os que vieram da grande tribulação; lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7, 14).

1. Entre estes homens e mulheres bem-aventurados, saudamos hoje com veneração profunda e santa alegria uma filha do povo de Israel, rica em sabedoria e fortaleza. Formada na rígida escola da tradição de Israel e caracterizada por uma existência de virtude e de renúncia na vida religiosa, ela demonstrou um ânimo heroico no caminho para o campo de extermínio. Unida a Cristo crucificado, entregou a sua vida "pela paz verdadeira" e "pelo povo": Edith Stein, judia, filósofa, religiosa, mártir.
(...)Com a beatificação de hoje realiza-se um desejo acalentado durante muito tempo, não só pela Arquidiocese de Colônia, mas também por muitos cristãos e muitas comunidades na Igreja. Há sete anos, a Conferência Episcopal Alemã apresentou unanimemente este pedido à Santa Sé, e a este pedido uniram-se outros Bispos simpatizantes da causa, de diversos Países. Por isso grande é a alegria que todos nós sentimos hoje ao satisfazer este pedido e de poder nesta solene liturgia, diante dos fiéis e em nome da Igreja, declarar a Irmã Teresa Benedita da Cruz como Beata na glória de Deus. Poderemos a partir de agora venerá-la como mártir e solicitar a sua intercessão junto do trono de Deus. Por isso me alegro convosco, e sobretudo com as suas irmãs do Carmelo de Colônia e de Eeht, e também com todos os que pertencem a esta Ordem religiosa. Além disso, causa-nos sentimentos de alegria e de gratidão o facto de estarem também presentes nesta celebração litúrgica irmãos e irmãs judeus, e em particular os familiares de Edith Stein.

2. "Manifestai-Vos no dia da nossa tribulação e fortalecei-nos, Senhor" (Est. 14, l2). As palavras desta súplica, que escutamos na primeira leitura da liturgia de hoje, pronuncia-as Ester, uma filha de Israel, em tempos do exílio da Babilônia. A sua oração, dirigida a Deus, no momento de perigo mortal para ela e para todo o se povo nos comove profundamente: "Meu Senhor, meu único Rei, assisti-me no meu desamparo, porque não tenho outro socorro senão Vós, porque o perigo é iminente. Senhor, escolhesses Israel entre todas as nações, e os nossos pais, entre todos os seus antepassados, para fazer deles Vossa herança perpétua... O Deus, poderoso sobre todas as coisas... livrai-nos...!" (Est. 14, 3-19).
O medo da morte, diante da qual Ester treme, surgiu quando, sob a influência do poderoso Aman, um inimigo mortal dos Judeus, se tinha difundido em toda a Pérsia a ordem de exterminar este povo. Com a ajuda de Deus e a entrega da sua própria vida, Ester contribuiu de maneira decisiva para a salvação do seu povo.

3. Esta oração suplicante, que remonta a mais de dois mil anos, é pela liturgia festiva deste dia posta nos lábios da Serva de Deus Edith Stein, uma filha de Israel do nosso século. A oração tornou-se de novo atual, dado que aqui, no coração da Europa, foi uma vez mais concebido o plano de exterminar os judeus. Concebeu-o uma ideologia desatinada, em nome de um racismo satânico, levando-o à prática com consequências desastrosas. Enquanto se desenrolavam os dramáticos acontecimentos da segunda Guerra Mundial, construíram-se rapidamente os campos de concentração e os fornos crematórios. Nesses lugares terríveis encontraram a morte milhões de filhos e de filhas de Israel de todas as idades, desde as crianças até aos anciãos. O tremendo aparato de poder do Estado totalitário não poupou ninguém e adotou as medidas mais cruéis também contra aqueles que tiveram a coragem de defender os judeus.

4. Edith Stein morreu no campo de concentração de Auschwítz, como filha do seu povo martirizado. Não obstante a sua transferência de Colônia para o Carmelo de Echt, ela encontrou ali apenas um refúgio provisório ante a crescente perseguição contra os judeus. Depois da ocupação da Holanda, os nacional-socialistas começaram imediatamente também ali o extermínio dos judeus, excluindo no início os judeus batizados. Mas quando os Bispos católicos dos Países Baixos protestaram numa Carta pastoral contra as deportações dos judeus, os detentores do poder vingaram-se determinando também o extermínio dos judeus de fé católica.

Assim, a irmã Teresa Benedita da Cruz, juntamente com a sua querida irmã Rosa, que se refugiara no Carmelo de Echt, começou o seu caminho para o martírio. Quando chegou a hora de deixar o Carmelo, Edith limitou-se a pegar a sua irmã pela mão e disse: "Vem, ofereçamo-nos pelo nosso povo". Com a força de um discípulo de Cristo e disposta a sacrificar-se por Ele, viu, mesmo na sua aparente debilidade, um modo de prestar um último serviço ao seu povo.

Já alguns anos antes ela se tinha comparado com a rainha Ester no exílio junto da corte persiana. Numa das suas cartas lemos o seguinte: "Tenho a certeza de que o Senhor aceitou a minha vida por todos os judeus. Penso continuamente na rainha Ester, que foi levada do seu povo precisamente para se apresentar perante o rei em favor do povo. Eu sou uma pequena Ester, muito pobre e fraca, mas o Rei que me escolheu é infinitamente grande e misericordioso".

5. Caros irmãos e irmãs. Juntamente com a oração de Ester, encontramos um trecho tirado da Carta aos Gálatas. O Apóstolo Paulo escreve: "Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gál. 6, 14). Também Edith Stein encontrou no caminho da sua vida este mistério da cruz anunciado por São Paulo aos cristãos nesta Carta. Edith Stein encontrou-se com Cristo, e este encontro levou-a, passo a passo, à clausura do Carmelo. No campo de extermínio ela morreu como filha de Israel "para glória do nome santíssimo de Deus", e ao mesmo tempo como Irmã Teresa Benedita da Cruz, isto é, abençoada pela cruz.

Toda a vida, de Edith Stein é caracterizada por uma incansável busca da verdade e está iluminada pela bênção da cruz de Cristo. Teve o seu primeiro encontro com a realidade da cruz na pessoa de uma religiosíssima viúva de um colega de estudos, para a qual a trágica morte do marido não foi ocasião de dúvida para a própria fé, mas uma circunstância em que encontrou na cruz de Cristo a força e o consolo. Edith Stein escreveu mais tarde sobre este episódio: "Foi o meu primeiro encontro com a cruz e com a força que Deus dá àqueles que a levam... Nesse momento a minha incredulidade derrocou e resplandeceu Cristo: Cristo no mistério da cruz". A sua vida e o seu itinerário de cruz estão intimamente ligados ao destino do povo judeu. Numa oração, confessa ao Senhor o que ela sabia: "que a sua cruz agora era posta sobre os ombros do povo judeu" e todos os que compreendessem isto "deveriam estar prontos a tomá-la sobre os próprios ombros em nome de todos. Eu queria fazê-lo, se Ele me mostrasse o modo". Ao mesmo tempo, ela tem a certeza interior de que Deus escutara a sua oração. Quanto mais cruzes gamadas se viam pela rua, tanto mais se elevava a cruz de Cristo na sua própria vida.

Quando entrou no Carmelo de Colônia, com o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz para participar de maneira ainda mais profunda no mistério da cruz de Cristo, ela sabia que tinha "esposado o Senhor no sinal da cruz". No dia da sua primeira profissão pareceu-lhe ser, como ela própria disse, "como a esposa do Cordeiro". Estava convicta de que o seu Esposo celeste queria introduzi-la ao mais íntimo do mistério da cruz.

Fonte:

Em Colônia, no Rito de Beatificação, publicado no jornal L'Osservatore Romano, edição semanal em português n. 20 (912), 17 de maio de 1987, págs. 5/6 (253/254).

domingo, 2 de agosto de 2015

Novena Meditativa a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) - Dia 3º




3º dia da NOVENA – Biografia de Santa Edith Stein, considerada padroeira dos universitários – O texto abaixo é a Parte 3 do artigo de Renê Courtois

A SOMBRA DA CRUZ

O ano de 1933 se iniciava sob inquietantes presságios: a chegada brutal do nacional socialismo fazia prever perseguições próximas contra os judeus.

Uma tarde, durante a quaresma, Edith Stein teve pela primeira vez uma notícia destas ameaças. Desde esta hora, a dolorosa apreensão de tantos sofrimentos reservados a sua raça não deveria deixá-la mais. No começo de abril, de passagem em Colônia, ela assistiu a uma Hora Santa na capela do Carmelo Lindenthal. Nesta tarde houve entre o Mestre e sua discípula, um compromisso secreto que deveria orientar daí em diante todo o seu destino. Deixemos a palavra a Edith Stein: “Eu me dirigia ao Senhor, nos diz ela, e Lhe dizia que sabia bem que sua Cruz pesaria daí por diante sobre o povo de Israel. Estava pronta a percorrer este caminho. Que o Senhor me indicasse apenas o que devia fazer. Quando terminou o ofício, eu tinha a certeza interior de ter sido atendida. Mas não sabia ainda qual seria a minha Cruz.”

Ela o saberia bem cedo. De retorno a Munster, a 9 de abril seguinte, recebeu o aviso de que todo ensino e toda publicação estavam interditos aos não arianos. Ela compreendeu que sua carreira universitária estava terminada. Vários convites lhe foram feitos do estrangeiro, especialmente da América do Sul. Mas sua decisão era irrevogável. Há doze anos aspirava com toda a sua alma a vida contemplativa. Não tinha soado a hora de realizar enfim o seu desejo íntimo? Não se lhe poderia mais objetar com a necessidade de sua ação no mundo, uma vez que toda atividade pública lhe era interdita.
O abade de Beuron aquiesceu finalmente ao seu pedido. Imediatamente, Edith Stein deu os passos necessários para sua admissão no carmelo de Colônia. Ela deixou Munster, em julho de 1937, e passou um mês em Colônia. Enfim, partiu para Breslau, para se despedir definitivamente dos seus.

Lá, tudo se ignorava de sua decisão. Sua irmã Rosa, a quem ela se confiou em primeiro lugar, ficou surpreendida, mas compreendeu e calou. Pouco a pouco ela se abriu com seus irmãos e irmãs, pedindo-lhes que nada revelassem a sua mãe. Como outrora, passava seus dias de espera na intimidade desta mãe venerada. Idosa, com 84 anos, sentava-se a sua mesa de trabalho e lhe confiava tudo que tinha no coração. Jamais inquiriu dos projetos futuros de sua filha. Por sua vez, Edith não desejava apressar a hora da dura revelação.
O momento, porém, devia chegar. Devemos consignar aqui a emocionante descrição que Edith nos deixou: No primeiro domingo de setembro, eu estava só em casa com mamãe. Ela estava sentada, tricotando perto da janela. Eu estava ao pé dela. De repente, ela me fez a pergunta tanto tempo esperada:
“- O que vais fazer em Colônia, com as religiosas?
- Viver com elas! - respondi

Mamãe não parou de tricotar. Seu novelo de lã se desenrolou. Com as mãos trêmulas, procurou ajeitá-lo. Eu ajudei, enquanto a nossa conversa continuava. Desde este momento a paz tinha terminado. Sobre a casa, pairava uma pesada pressão. De tempos em tempos mamãe me fazia uma pergunta ou outra. Seguia-se um silêncio. Meus irmãos pensavam como minha mãe, mas não desejavam aumentar seu sofrimento. Um de seus genros, contudo, mostrou-lhe que a minha decisão consumaria a minha ruptura com o povo judeu justamente quando se aproximavam terríveis provações. Como esta alusão a minha infidelidade deve ter feito sofrer minha mãe!”

Ela que aceitava com o coração tão leve a Cruz que se abatia sobre sua raça, e que desejava carregar diante de Deus! A separação me foi tão cruel, que ninguém poderia me dizer com certeza, se tal ou qual maneira de agir teria sido a melhor. Eu tinha que dar este passo nos mistérios da fé. Muitas vezes, durante estes dias, pensei: Qual de nós duas, mamãe ou eu, não saberá mais resistir?
“Mas nós ambas aguentamos até o último dia.”

A 12 de outubro, aniversário de Edith e, ao mesmo tempo, festa judia dos Tabernáculos a jovem acompanhou, uma vez mais, sua mãe à sinagoga. Durante o longo trajeto de volta que sua velha mãe queria fazer a pé, a fim de abrir o coração com a filha, ela lhe perguntou:
“- O sermão não foi belo?
- Certamente mamãe!
- Então também se pode ser piedosa entre os judeus?
- Por certo, se não se aprendeu a conhecer outra coisa.” Ela teve então esta dolorosa reflexão:
“- Porque então aprendeste a conhecer outra coisa? Eu não quero reprovar nada a Jesus. Ele pode ter sido uma criatura muito bondosa. Mas por que ele quis se fazer Deus?”
“Neste dia havia muita gente em nossa casa. Um após outro nossos hóspedes se despediram. Por fim eu fiquei só, com mamãe. Com as mãos no rosto, ela começou a chorar. Eu me coloquei atrás de sua cadeira e abracei docemente esta venerável cabeça branca. Assim ficamos longo tempo, até que ela quis se deitar. Nesta noite, não fechamos os olhos nem por um momento.”

O CARMELO

No dia seguinte pela manhã Edith Stein partiu para Colônia, e, dois dias depois encontrava-se diante desta clausura que há tanto tempo desejava transpor.
A 15 de outubro de 1933, com 42 anos de idade, Edith Stein terminava o estranho itinerário que a conduzira de Husserl ao Carmelo. Daí em diante, começava uma nova estrada. A estrada da irmã Teresa-Benedita da Cruz. Este foi o nome religioso que tornou, a 15 de abril de 1934, ao receber o hábito. No dia seguinte a esta cerimônia, o provincial dos Carmelitas pediu-lhe que retomasse daí por diante, em seu tempo livre, seu trabalho científico de filosofia.

Assim logo se encontrou em sua cela, entre seus livros. Aí comporia a principal obra de sua vida: L´ être fini et l´être éternel, uma expicação da filosofia moderna, de Descartes a Heidegger. Esta obra em dois volumes não pode ser publicada na época, por causa dos decretos que impediam toda literatura não ariana.

Apesar do isolamento do claustro, ela continuava em comunicação com a sua família. Cada semana, por uma permissão especial, enviava uma carta a sua mãe. Por muito tempo suas cartas não tiveram resposta. Afinal, recebeu uma carta, testemunha do amor materno enfim vencedor. A partir deste momento, as cartas de sua irmã Rosa traziam-lhe de cada vez algumas palavras de sua mãe. Durante o verão de 1936, mulher admirável, com 87 anos de idade, caiu doente e seu estado piorou rapidamente. A 14 de setembro, na festa de Exaltação da Santa Cruz, fazia-se no Carmelo a cerimonia de renovação dos votos. Quando chegou a vez da irmã Tereza da Cruz, ela teve de súbito a clara intuição: “Minha mãe está ao meu lado”. No mesmo dia, um telegrama trouxe a notícia do falecimento. Sua mãe tinha expirado na hora da renovação de seus votos.

Durante o Advento de 1936, Edith Stein teve a alegria de acolher sua irmã Rosa que recebeu afinal o batismo, tanto tempo retardado para não ferir ainda mais a velha mãe.
O céu cobria de nuvens cada vez mais sombrias. A perseguição nazista, longe de diminuir, redobrava de violência. Era uma pérfida campanha contra a religião de um modo geral, e contra as ordens religiosas em particular. A irmã Teresa temia que a sua presença expusesse o Carmelo de Colônia a represálias. Assim, a sua partida para a Holanda foi decidida.
Durante a noite de S. Silvestre, em 1938, ela passou clandestinamente a fronteira e dirigiu-se ao Carmelo de Echt, no Limburgo Holandês. Rapidamente adaptou-se. Às seis línguas que já dominava, acrescentou o flamengo. Prosseguindo seus trabalhos intelectuais, acabou seu estudo sobre S. João da Cruz: A Ciência da Cruz.
Nesta época, sua irmã Rosa veio encontrá-la no Carmelo de Echt, como carmelita de terceiro grau.

O HOLOCAUSTO

10 de maio de 1940. Em meio ao fragor das explosões e ao rugir dos motores, a possante máquina de guerra nazista se põe em marcha. A Holanda é rapidamente ocupada. As perseguições anti-semitas desenvolvem-se com violência.
Um perigo imediato pesa, de novo, sobre a irmã Teresa da Cruz. Por isto, é decidida uma nova evasão para a Suíça, para o Carmelo Le Pâquier, perto de Friburgo.
Era o começo de 1942. As formalidades burocráticas se alongavam. Uma convocação da Gestapo já chamara a religiosa a Maestricht e depois a Amsterdam. A sua presença não tinha escapado à sinistra polícia. As ameaças se faziam cada vez mais temíveis. Felizmente, tudo estava pronto para a partida... Mas não eram estes os desígnios de Deus.
A 2 de agosto de 1942, a comunidade de Echt tinha se dirigido ao coro, como de costume, para a oração matinal. Bateram na porta do convento. Dois oficiais apareceram e solicitaram a presença das irmãs Stein. Estas, supondo que lhes traziam o passaporte para a Suíça, deixaram a capela.

Ao entrar no parlatório, empalideceram. Os SS as esperavam. Tiveram ordem de se aprontar para deixar o Carmelo em dez minutos.

Edith Stein voltou ao coro, ajoelhou-se uma última vez diante do Santíssimo Sacramento e deixou a comunidade, com estas palavras: “Por favor, irmãs, rezem por nós.”
Os enérgicos protestos da Madre Superiora não tiveram nenhum efeito. Rapidamente as duas religiosas reuniram o que lhes permitiram levar: uma coberta, uma caneca, uma colher e algumas provisões.

Na rua, onde uma multidão se tinha reunido para protestar, estava um grupo dos SS. Fizeram entrar as duas irmãs em uma viatura que partiu para um destino desconhecido.
Em Echt, onde a angústia reinava, recebeu-se um telegrama do campo de concentração de Amersfort. Edith Stein pedia algumas vestes quentes e seu breviário.
As irmãs enviaram rapidamente a sua encomenda, por intermédio de jovens holandeses que puderam entrar em comunicação com as duas religiosas. Eles as encontraram muito calmas, sem a menor queixa, mas na incerteza total de seu futuro. Uma carta recebida pouco depois, anunciava a sua partida iminente para leste. Veio ainda uma palavra, última confidência que brilhou como uma última chama na noite: “A ciência da Cruz não se pode adquirir sem que ela nos pese realmente sobre os ombros. Desde o primeiro instante eu estava convencida, e a mim mesma me dizia: Ave crux, spes unica...”

O silêncio total se seguiu. Soube-se que a 6 de agosto, primeira 5a. feira do mês, um comboio de judeus, quase todos convertidos, tinha partido em direção da Polônia.
O último traço conhecido desta eminente religiosa é um pequeno bilhete a lápis remetido por mão desconhecida a uma irmã de Friburgo: A caminho da Polônia. Lembranças da Irmã Teresa Benedita da Cruz.

E, após, a noite. Ignoramos onde terminou o seu calvário. Não se sabe em que lugar este olhar profundo que tinha perscrutado sempre os enigmas do homem e do universo, encontrou afinal a luz sem sombras.

Alguns disseram, com certo fundamento ao que parece, que foi nas câmaras de gás do sinistro campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Mas nada foi confirmado oficialmente. Por que então perseguir questões sem utilidade?
“Nós não a procuramos mais na terra, escreviam as Carmelitas de Colônia, mas perto de Deus que aceitou seu sacrifício e dará a recompensa ao povo pelo qual ela sofreu e morreu.”

A notícia de sua morte, numerosos testemunhos de admiração e de veneração chegaram de todos os lugares da Alemanha. Por sugestão do professor Grabmann, o círculo cada vez mais numeroso de seus amigos, antigos alunos e admiradores, fez votos de que, por sua beatificação e canonização ela se transformasse em exemplo luminoso do conhecimento e do amor de Deus.

Sua clareza não cessa de se estender aos meios intelectuais e universitários. Como escreveu o jesuíta alemão Frans Hillig: “É preciso que, graças aos jovens cristãos de todos os países da Europa, o exemplo desta vida seja arrancado ao passado para que continue neles cada vez mais vivo e atuante”.

Fim.

Fonte: Convertidos do Século XX, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1960
Tradução: Hoche Luiz Pulchério